domingo, 1 de agosto de 2010

Para os judeus, uma cidade sueca é um “lugar para abandonar”

Donald Snyder / Forward

De certo modo, os gritos de Heil Hitler que freqüentemente saudavam Marcus Ellenberg enquanto ia para a sinagoga de estilo mouro de 107 anos de idade nesta cidade portuária, forçaram este advogado de 32 anos a fazer uma difícil decisão de mudança de vida: temendo pela segurança da sua família, depois de repetidos incidentes anti-semitas, Ellenberg, sua mulher e dois filhos, de forma relutante, desligaram-se e mudaram-se para Israel em maio.

A Suécia, um país considerado um modelo de tolerância, tem, ironicamente sido o refúgio da família de Ellenberg. Seus avos paternos encontraram seu lar em Malmo em 1945, após sobreviver ao Holocausto. Os pais da sua esposa vieram a Malmo, da Polônia em 1968 depois que o governo comunista lançou uma perseguição anti-semita.

Mas, como em muitas outras cidades da Europa, uma população muçulmana em rápido crescimento, vivendo em condições auto-segregadas que parecem aumentar a alienação, tem misturado toxicamente o ódio dirigido às políticas israelenses com ações dos muçulmanos – e de muitos outros não muçulmanos – para transformar as vidas dos judeus locais. Como muitos dos seus correligionários em outras cidades européias, os judeus de Malmo relatam estar sendo sujeitos crescentemente a ameaças, intimidação e violência real em manifestações de apoio a Israel.

“Eu não queria que meus filhos pequenos crescessem nesse ambiente” diz Ellenberg numa entrevista telefônica pouco antes de deixar Malmo. “Não seria bom para eles permanecer em Malmo”.

Malmo, a terceira maior cidade da Suécia, com uma população de aproximadamente 293.900, dos quais somente 760 judeus, atingiu um ponto de mudança mais ou menos em Janeiro de 2009, durante a campanha de Israel em Gaza. Um pequeno grupo, na sua maioria de judeus fez uma passeata que foi projetada como uma demonstração de paz, mas que foi vista como apoio a Israel. Esta demonstração pacífica foi cortada imediatamente quando os manifestantes foram atacados por uma multidão bem maior e vociferante de muçulmanos e esquerdistas suecos que lhes jogaram garrafas e rojões, enquanto a policia parecia incapaz de parar a escalada de agressões físicas.

“Eu estava muito alarmado e contrariado ao mesmo tempo” lembrou Jehoshua Kaufman, um líder da comunidade judaica. “Alarmado porque tinha um monte de pessoas com raiva nos encarando, gritando insultos e jogando garrafas e rojões ao mesmo tempo. O barulho era muito alto. E eu estava zangado porque nós realmente queríamos realizar a manifestação, e não nos estavam permitindo terminá-la”.

Alan Widman, que é um robusto membro do parlamento de quase dois metros de altura e um membro não judeu do Partido Liberal que representa Malmo, falou simplesmente, “Eu nunca tive tanto medo na minha vida”.

Eventualmente os participantes da manifestação foram retirados pela polícia, que não estava presente em um número suficiente como para proteger sua passeata. Porém alguns manifestantes se queixaram que os cães da policia para controle de multidões foram mantidos com a focinheira fechada.

Os Ellenberg não são particularmente religiosos, mas eles têm uma forte identidade judaica e se sentiram incapazes de morar como judeus em Malmo depois deste episódio. Ellenberg diz que ele conhece pelo menos 15 outras famílias judaicas que estão pensando em ir embora.

O anti-semitismo na Europa estava historicamente associado com a extrema direita, porém os judeus entrevistados para este artigo, afirmam que a ameaça na Suécia hoje vem dos muçulmanos e das mudanças nas atitudes em relação aos judeus na sociedade maior.

Saeed Azams, o sheik chefe de Malmo, que representa a maioria dos muçulmanos da cidade, é rápido em repudiar e condenar a violência contra os judeus de Malmo. Recentemente ele, junto com líderes judeus, esteve participando de um grupo de diálogo organizado por funcionários da cidade que procura abordar o assunto. Mas Azams também diminui a seriedade do problema, dizendo que não tem “mais que 100 pessoas, a maioria de menos de 18 anos de idade”, que se engajam na violência e pertencem a gangues de rua. “Há algumas coisas que eu não posso controlar”, falou ele.

Há uma estimativa de 45.000 muçulmanos em Malmo, ou uns 15% da população da cidade. Muitos deles são palestinos, iraquianos e somalis, ou vêm da antiga Iugoslávia.

Mas o problema não é apenas com “muçulmanos”, e não somente de Malmo.

Um problema europeu

Um estudo continental, dirigido pelo Instituto de Pesquisa Interdisciplinar sobre Conflito e Violência da Universidade de Bielefeld na Alemanha, lançado em Dezembro de 2009, encontrou que 45,7% dos europeus pesquisados concordam de alguma forma ou fortemente com a seguinte afirmação “Israel está fazendo uma guerra de exterminação contra os palestinos”. E 37,4% concordaram com a seguinte afirmação: “Considerando a política de Israel eu posso entender porque as pessoas não gostam dos judeus”.

“Há um alto grau de anti-semitismo que está escondido por baixo das críticas às políticas de Israel”, disse Beate Kupper, uma das principais pesquisadoras do estudo, numa entrevista telefônica com Forward , citando estes dados e a tendência a “culpar os judeus em geral pelas políticas de Israel”.

Kupper falou que em lugares onde há um forte tabu contra o uso de expressões anti-semitas como na Alemanha, “a crítica contra Israel é um grande caminho para expressar seu anti-semitismo de uma forma indireta”.

De acordo com Bassam Tibi, professor emérito de Relações Internacionais na Universidade de Goettingen na Alemanha, e autor de vários livros sobre o crescimento do Islã na Europa, os muçulmanos formam uma parte significativa do problema. “O crescimento da diáspora muçulmana na Europa está afetando os judeus”, falou Tibi. Entre algumas populações muçulmanas na Europa – mas não todas – “todo judeu é visto como responsável pelo que Israel está fazendo e pode ser um alvo”.

Em Malmo, o papel da população no problema é visto como significativo. A maioria dos muçulmanos de Malmo vive em Rosengard, a parte mais oriental desta cidade - segregada de fato -, onde o desemprego é de 80%. Antenas parabólicas salpicam os apartamentos dos aranhas-céus para receber a programação de Al-Jazeera e outras redes de cabo em árabe que mantêm os muçulmanos de Malmo constantemente em contato com os mais recentes desenvolvimentos árabe-israelenses.

Sylvia Morfradakis, uma alta funcionária da União Européia que trabalha com os desempregados crônicos, aqueles que têm estado sem trabalho por 10 a 15 anos, disse que o maior motivo para que 80 a 90% dos muçulmanos entre 18 e 34 anos não possam encontrar trabalho é que eles não sabem falar sueco.

“Os empregadores suecos insistem que seus trabalhadores saibam bem sueco, até para os trabalhos baixos”, disse Morfradakis. Ela adiciona “o conceito de bem estar social de ajuda-sem-fim não dá às pessoas o incentivo para fazer alguma coisa para melhorar de vida”.

Mas Per Gudmundson, editor chefe do jornal Svenska Dagbladet, um jornal de grande tiragem na Suécia, é crítico dos políticos que ligam as ações anti-semitas às condições de vida dos muçulmanos. Ele diz que esses políticos oferecem “desculpas brandas” para os adolescentes muçulmanos acusados de crimes anti-semitas. “Os políticos dizem que esses jovens são pobres e oprimidos, e que nós os fizemos sentir ódio. Eles estão dizendo, realmente, que o comportamento desses jovens, de alguma forma, é nossa falta”, disse ele.

De acordo com Gudmundson alguns imigrantes dos países muçulmanos já chegam a Suécia como ardorosos anti-semitas.

A difícil situação dos judeus preocupa Annelie Enochsoh, um membro democrata cristão do parlamento sueco. “Se os judeus se sentem ameaçados na Suécia, então eu me sinto muito assustada sobre o futuro do meu país”, falou ela numa entrevista ao Forward.

A experiência de um rabino do Chabad

Porque ele é o judeu mais visível em Malmo, com seu chapéu de feltro preto, tzitzit e longa barba, o único rabino de Malmo, Shneur Kesselman, 31, é um alvo preferencial para os sentimentos anti-judaicos muçulmanos. O rabino ortodoxo do Chabad diz que durante os seus seis anos na cidade, ele tem sido vítima de mais de 50 incidentes anti-semitas. Kesselman, um americano, é um homem de fala macia, com uma determinação de aço para permanecer em Malmo, apesar do perigo.

Dois membros da Embaixada Americana em Estocolmo o visitaram em abril para discutir a sua segurança. Em relação a Kesselman eles têm bons motivos para se preocupar.

O rabino lembrou o dia em que ele estava atravessando a rua perto da sua casa, junto com sua esposa, quando um carro repentinamente colocou a marcha ré e acelerou em direção a eles. Eles se esquivaram do veículo e mal conseguiram chegar ao outro lado da rua. “Minha esposa ficou aos gritos” diz o rabino. “Foi um evento traumático”.

Os jornais locais reportam que o número de incidentes anti-semitas em Malmo dobrou em 2009 em relação a 2008, embora a polícia não possa confirmar esta informação. Enquanto isso, Fredrik Sieradzki, porta-voz da comunidade judaica de Malmo, estima que, a já pequena população judaica está encolhendo aproximadamente 5% ao ano. “Malmo é um lugar para ir embora”, disse, citando o anti-semitismo como o motivo primordial. “A comunidade era o dobro do seu tamanho duas décadas atrás”. A sinagoga em Foreningsgatan, uma rua elegante, tem uma segurança elaborada. Refletindo o nível de medo, o vidro do prédio não é apenas a prova de balas, falam funcionários da comunidade judaica; é a prova de mísseis. Guardas de segurança revistam os estranhos que procuram entrar na sinagoga.

Alguns pais judeus tentam proteger suas crianças mudando para bairros nos quais há menos muçulmanos nas escolas, como para que os confrontos sejam minimizados. Seis jovens judeus entrevistados relataram abusos anti-semitas por parte dos colegas muçulmanos. De acordo com suas famílias, embora os incidentes fossem reportados às autoridades, nenhum dos perpetradores foi preso, e muito menos punido.

Uma vitima foi Jonathan Tsubarah, 19, o filho de um judeu israelense que se estabeleceu na Suécia. Enquanto ele passeava pela praça de paralelepípedos Gustav Adolph em 21 de agosto de 2009, três homens jovens – um palestino e dois somalis – o pararam e lhe perguntaram de onde ele era – ele lembra.

“Eu sou de Israel”, Tsubarah respondeu.

“Eu sou da Palestina”, um dos agressores retrucou, “e eu vou te matar”.

Os três o empurraram ao chão e bateram-lhe nas costas, diz Tsubarah. “Mata o judeu”, eles gritavam.

“Agora você está orgulhoso de ser um judeu?”.

“Não, não estou não” replicou o jovem desrespeitado. Ele disse que ele fez isso somente para conseguir que eles parassem de lhe bater. Tsubarah planeja ir para Israel e se alistar no exército.

Uma fraca resposta do governo

Muitos judeus culpam a polícia sueca por não controlar o anti-semitismo. A maioria dos crimes de ódio em Malmo são atos de vandalismo, disse Susanne Gosenius, da recém criada Unidade de Crimes de Ódio do Departamento de Polícia de Malmo. Isso inclui pichações com suásticas em prédios. De acordo com Gosenius, a polícia não dá prioridade a este tipo de crimes. “É muito raro que a polícia encontre os perpetradores”, ela disse. “Os suecos não entendem porque suásticas são ruins e como elas ofendem aos judeus”. De acordo com Gosenius, 30% dos crimes de ódio na região de Malmo são anti-semitas.

Os membros do Parlamento têm assistido passeatas anti-Israel nas quais a bandeira israelense foi queimada enquanto as bandeiras do Hamas e do Hezbolla foram hasteadas, e a retórica foi freqüentemente anti-semita e não apenas anti-Israel. Porém está retórica pública não é considerada de ódio e denunciada, diz Henrik Bachner, um escritor e professor de história na Universidade de Lund, perto de Malmo.

“Suécia é um micro-cosmos do anti-semitismo contemporâneo”, diz Charles Small, diretor da Iniciativa da Universidade de Yale para o Estudo do Anti-semitismo. “É uma forma de concordância com o Islã radical, que é diametralmente oposta a tudo o que a Suécia defende.”

Uma iniciativa de diálogo

A situação tem gerado alguns pontos potenciais de luz. Recentemente, Ilmar Reepalu, o prefeito de Malmo, convocou um “fórum de diálogo” que inclui líderes das comunidades muçulmanas e judaicas, bem como altos funcionários da cidade, para melhorar as relações sociais na cidade e a resposta do governo da cidade aos conflitos.

Numa entrevista no seu escritório, o sheik Saeed Azams falou que era errado culpar aos judeus pelos atos de Israel. Azams, que utiliza uma cadeira de rodas, frisou a importância de ensinar aos jovens muçulmanos a parar de igualar os judeus de Malmo com Israel. Mas isso pareceu incluir a idéia de que os judeus, em troca, não deveriam permitir ser vistos como pró - Israel.

“Como a sociedade judaica na Suécia não condena as ações claramente ilegais de Israel”, disse ele, “então as pessoas comuns pensam que os judeus aqui são aliados de Israel, porém isso não é verdade”.

O sheik é um defensor do diálogo com os líderes judeus, e deu as boas vindas à criação do fórum de diálogo. Reepalu, o prefeito de Malmo, tem indicado Bjorn Lagerback, um psicólogo, para ficar responsável pelo recém criado fórum. E Sieradzki, o líder da comunidade judaica, estava otimista sobre as perspectivas para eventualmente melhorar as relações.

Reepalu criou o fórum na esteira da violência do ano passado contra os manifestantes judeus e suas próprias controvertidas expressões que irritaram aos judeus. Dizendo que condenava ambos, Sionismo e anti-semitismo, Reepalu criticou os judeus de Malmo por não se posicionar contra a invasão de Gaza por Israel. “Em vez disso”, disse ele, “eles escolheram organizar uma manifestação no centro de Malmo, que as pessoas interpretaram mal”.

Entrevistado na Prefeitura de Malmo, Lagerback reconheceu uma “situação péssima” em Rosengard, onde caminhões de bombeiros e ambulâncias freqüentemente são apedrejados por jovens muçulmanos raivosos quando estes veículos de emergência passam por lá. Porém como o sheik, ele se apressou em adicionar que aqueles que se engajam em violência eram um número pequeno de pessoas jovens. Ele atribuiu este comportamento às condições de vida de pobreza, moradias superlotadas e desemprego, bem como diferenças culturais.

Expertos suecos concordam que a integração dos muçulmanos à sociedade sueca tem falhado, e isso mina o desenvolvimento de uma sociedade mais diversa. Muitos alunos em escolas muçulmanas muito ortodoxas rejeitam a autoridade de professoras mulheres.

“Nós somos suecos, mas cidadãos de segunda ou terceira classe”, disse Mohammed Abnalheja, vice-presidente da Associação de Moradores Palestinos de Malmo. A organização ensina a crianças de descendência palestina sobre sua ligação à pátria palestina. “Nós temos o direito ao nosso país, Palestina”, ele disse. “Palestina está agora ocupada pelos sionistas”. Abnalheja nasceu de pais palestinos em Baghdad e veio a Malmo com seus pais em 1996. Ele nunca esteve no lugar que chama Palestina.

Enquanto isso, Judith Popinsky de 86 anos de idade, diz que ela já não é mais convidada para falar nas escolas que têm uma maioria de presença muçulmana para contar sua história de sobrevivente do Holocausto.

Popinski encontrou refúgio em Malmo em 1945. Até recentemente ela contava sua história nas escolas de Malmo como parte do programa de estudos do Holocausto. Agora, algumas escolas já não mais chamam sobreviventes para contar suas histórias, porque estudantes muçulmanos os tratam com desrespeito, inclusive ignorando os palestrantes ou saindo da sala de aula.

“Malmo me lembra do anti-semitismo que eu sentia de criança na Polônia antes da guerra”, falou ela a Forward enquanto estava sentada na sala da sua casa, que está enfeitada com tapetes persas e muitos quadros.

“Eu já não estou mais segura como uma judia na Suécia” diz Popinski tremendo e com voz frágil. Mas, ao contrário de outros, ela tenta ficar na Suécia. “Eu não serei uma vítima outra vez”, diz ela.

Tradução: Alberto Milkewitz

domingo, 20 de junho de 2010

O antissemitismo é novamente politicamente correto

Leon de Winter, romancista holandês

É um fenômeno fascinante: Por que as pessoas e organizações que se apresentam como progressistas se unem a muçulmanos reacionários? O grupo “Free Gaza” se mostra apenas como uma aliança de esquerda islâmica. Bem, Gaza já está livre. Israel retirou-se da estreita faixa há cinco anos. E também não há necessidade de qualquer ajuda humanitária. Mais de um milhão de toneladas de suprimentos humanitários entrou em Gaza proveniente de Israel nos últimos 18 meses, o equivalente a quase uma tonelada de ajuda para cada homem, mulher e criança na região.

Mas a população de Gaza votou em eleições democráticas para serem governados por um partido cujo ódio aos judeus é a pedra fundamental da sua existência. Qualquer um que duvide disso deve ler o manifesto do Hamas na Internet.

O fato de que Gaza está completamente "livre de judeus" não é suficiente para o Hamas. Eles querem que Israel também seja "livre de judeus". O bloqueio de Israel para "produtos estratégicos" não foi concebido para punir o povo palestino, mas para impedir o Hamas de obter armas pesadas e construir abrigos subterrâneos. Uma idéia simples de entender.

Por exemplo, ao contrário de Gaza, a Chechênia não é livre. Os russos esmagaram a luta pela independência dos chechenos com o bombardeamento intensivo de sua capital. E o que dizer de um estado curdo? Os turcos e iraquianos infligiram horrores inimagináveis contra os curdos. No entanto, apesar disso, não há a “Flotilha Livre do Curdistão” indo em direção a Turquia, e as autoridades russas não têm medo de serem presas em capitais européias por crimes de guerra.

Aqui estão mais alguns fatos. Vamos observar a taxa de mortalidade infantil em Gaza. Este é um número chave, que diz muito sobre as condições de higiene, nutrição e cuidados com a saúde. Em Israel, a taxa de mortalidade infantil é de 4,17 por 1.000 nascimentos, o que é aproximadamente o mesmo que nos países ocidentais. No Sudão a taxa é de 78,1, ou seja, uma em cada 13 crianças morrem ao nascer. Em Gaza, a mortalidade infantil, por 1.000 nascimentos é 17,71. Sim, este número é maior do que em Israel, mas muito menor do que no Sudão. E a taxa de mortalidade infantil da Turquia? Bem, isso é 24,84. Sim, mais crianças morrem ao nascer na Turquia do que em Gaza.

Aqui está outro fato. A expectativa de vida é 73 anos em Gaza. E na Turquia, novo protetor de Gaza, a expectativa de vida é de apenas 72 anos. Se os israelenses realmente queriam tornar a vida dos palestinos curta e desagradável, então eles estão obviamente fazendo algo errado. Os progressistas não ligam para qualquer outro grupo de muçulmanos pobres ou oprimidos. Eles só clamam pelas "vítimas" dos judeus. Por que isso acontece? Uma das razões é Yasser Arafat, cujo gênio foi redefinir a causa palestina na retórica neo-marxista e antiimperialista. Ele criou um novo contexto para o seu povo: a luta contra o colonialismo e o racismo. Ele era um líder corrupto clássico com um talento incrível para jogar com a mídia e os políticos ocidentais. Os progressistas adotaram os palestinos como seus favoritos, a vítima quintessência do imperialismo e do colonialismo, como resumido pelo estado sionista.

Mas há outra razão pela qual os progressistas ocidentais odeiam Israel, mas são indiferentes para as violações dos direitos humanos na Turquia, Irã ou Rússia. Isto por causa do Holocausto. Os europeus, que representam muito do que vai para a opinião pública mundial, se cansaram de carregar a culpa pela destruição dos judeus do continente. Eles começaram a sonhar com alguma forma de libertação histórica. Isso está vindo na forma de resposta militar de Israel aos ataques islâmicos e terroristas.

Os europeus não poderiam perder a oportunidade de difamar os judeus e redefinir as medidas de defesa de Israel como “desproporcional” ou total agressão - em outras palavras, crimes de guerra. Na visão dos progressistas europeus, o conflito Israel-Palestina tornou-se um conflito sem comparação, um fenômeno único de vítimas européias gerando vítimas palestinas, que parecia diminuir o peso dos europeus sobre o massacre do povo judeu. Assistindo a demonização de Israel, o ataque ao seu direito de defesa, como disse o primeiro-ministro Benyamin Netanyahu, torna-se claro que existe uma necessidade profunda entre os europeus em chamar os judeus de assassinos. É por isso que os palestinos, como "vítimas" dos judeus, são mais importantes que as numerosas vítimas muçulmanas dos extremistas também muçulmanos.

É por isso que milhões de outros muçulmanos que vivem em piores condições do que os palestinos dificilmente recebem qualquer menção na mídia. É por isso que Gaza é comparada com o Gueto de Varsóvia e Auschwitz. Ao chamar os israelenses de nazistas, os verdadeiros nazistas foram legitimados. É como se os europeus, liderados pelos progressistas, desejassem que os árabes terminassem o trabalho. Chega com os judeus. Isto é o que é: a libertação da Europa do legado do Holocausto.

Por décadas, os nossos progressistas, ativistas pacifistas ocidentais, foram enganados e manipulados por árabes tiranos e agora por turcos e iranianos islamitas. Eles estão ajudando nos esforços para destruir um dos maiores sucessos dos tempos modernos: a criação do Estado de Israel. O que temos assistido com a frota de Gaza é a execução perfeita de uma obra magistral de teatro islâmico. A indignação selvagem da mídia, um orgasmo de hipocrisia, marca o próximo capítulo da longa história do ódio dos europeus contra os judeus.

É politicamente correto, novamente, ser um antissemita.

Publicado no Wall Street Journal

domingo, 13 de junho de 2010

ESTE É O ALIADO DE LULA E DE CELSO AMORIM. OU: O TERRORISMO ESTÁ VENCENDO A GUERRA DE PROPAGANDA

Reinaldo Azevedo

É consenso, a esta altura, que os EUA e a União Européia buscaram a aprovação no Conselho de Segurança da ONU de uma nova rodada de sanções ao Irã, ainda que tímidas, como uma espécie de autorização moral e aviso prévio para sanções mais duras, aí impostas por americanos e europeus. Trata-se de uma etapa. Se o Irã não recuar ou aceitar negociar…

“Não vamos suspender o enriquecimento de urânio”, disse Ali Ashgar Soltanieh, enviado iraniano à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), incluindo o enriquecimento a 20%. Segundo disse, tal hipótese só seria considerada se o país recebesse o combustível de alta concentração das potências ocidentais. É uma alusão àquele suposto “acordo” costurado por Brasil e Turquia. Ocorre que, no dia mesmo do anúncio do dito-cujo, o país reiterou que daria seqüência a seu programa de enriquecimento. Ainda que se efetivasse a troca, os iranianos ficariam com pelo menos uma tonelada do combustível, o bastante para produzir uma ou duas armas nucleares, estima-se.

A esta altura, como diria o megalonanico Celso Amorim, é de se supor que Mahmoud Ahmadionejad esteja “irritado”, coisa que o Brasil tentou evitar, segundo o nosso Colosso de Rhodes da diplomacia. A questão é saber em quais termos ele se irrita. O presidente do Irã está na China, onde participa do “Dia do Irã” na Exposição Mundial de Xangai. Deixou muito claro qual é, literalmente, o seu alvo.

Segundo esse grande aliado do governo brasileiro, os EUA são hoje “governados por sionistas” a serviço de Israel. E refletiu: “Se [os isralenses] atacam o Líbano, os Estados Unidos apóiam; se atacam Gaza, os americanos apóiam; se atacam a ‘Flotilha da Paz’ no mar, a administração americana está por trás (…) Hoje, este regime sionista [de Israel] é o mais odiado do mundo”.

Ahmdinejad não disse, obviamente, por que Israel “atacou” o Líbano (na verdade, atacou os terroristas do Hezbollah) ou Gaza (na verdade, atacou os terroristas do Hamas). Numa coisa, no entanto, ele tem certa razão: aquilo que ele chama de “regime sionista” — o governo democraticamente eleito de Israel, o que o seu jamais será — é mesmo um dos mais “odiados”, ao menos na imprensa iraniana e, tragicamente, em parte da imprensa ocidental, incluindo a brasileira. Basta que terroristas e filoterroristas falem “em nome” da causa palestina e assumem logo a condição de heróis. O mundo não consegue enxergar outras vítimas no Oriente Médio.

Ahmdinejad também resolveu fazer digressões sobre o governo americano — afinadíssimo, como vocês vão notar, com o governo brasileiro e o Itamaraty. “A administração dos Estados Unidos sacrificou os interesses de seu povo pelos dos sionistas”. Certa feita, Lula tentou dar alguns conselhos a Barack Obama na condição de “políticos mais experiente”. Ahmadinejad faz o mesmo: “Talvez [Obama] seja muito imaturo; acho que não conhece muito bem o mundo nem está muito familiarizado com os assuntos políticos”. Repetindo Marco Aurélio Top Top Garcia, Ahmadinejad afirmou que as sanções são uma derrota para os… EUA!

É com esse tipo de gente que se está lidando e é com esse tipo de gente que o Brasil se juntou — e, por um triz, não ficou sozinho no apoio incondicional ao Irã. A Turquia havia decidido de abster no Conselho de Segurança da ONU. Amorim teve quase de implorar um voto solidário.

E se as potências tivessem desistido das sanções? Ahmadinejad teria cantado vitória contra o Império Decadente do Mal e os sionistas. Como elas foram aprovadas, então ele canta vitória contra o Império Decadente do Mal e os sionistas…

Viram? O Brasil não aceita mais aquele mundo em que, como diria o Zóio Junto, “americanos e sionistas” dão as cartas. O Itamaraty quer um mundo em que Arhmadinejad, o Hezbollah e o Hamas participem do jogo em igualdade de condições. O terrorismo está vencendo a guerra de propaganda. Na nossa imprensa, por exemplo, com as exceções de sempre, ele já é emplamente vitorioso.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Em Defesa de Israel

Por Pilar Rahola

Por que não vemos manifestações em Paris, ou em Londres, ou em Barcelona contra as ditaduras islâmicas? Por que não as fazem contra a ditadura birmanesa? Por que não há manifestações contra a escravidão de milhões de mulheres que vivem sem nenhum amparo legal? Por que não se manifestam contra o uso de "crianças bomba", nos conflitos onde o Islã está envolvido? Por que nunca lideraram a luta a favor das vítimas da terrível ditadura islâmica do Sudão? Por que nunca se comoveram pelas vítimas de atos terroristas em Israel? Por que não consideram a luta contra o fanatismo islâmico, uma de suas principais causas? Por que não defendem o direito de Israel de se defender e de existir? Por que confundem a defesa da causa palestina, com a justificação do terrorismo palestino?

E a pergunta do "milhão", por que a esquerda européia, e globalmente toda a esquerda, estão obcecadas somente em lutar contra as democracias mais sólidas do planeta, Estados Unidos e Israel, e não contra as piores ditaduras? As duas democracias mais sólidas, e as que sofreram os mais sangrentos atentados do terrorismo mundial. E a esquerda não está preocupada por isso.

E finalmente, o conceito de compromisso com a liberdade. Ouço essa expressão em todos os foros pró-palestinos europeus. "Somos a favor da liberdade dos povos", dizem com ardor. Não é verdade. Nunca se preocuparam com a liberdade dos cidadãos da Síria, do Irã, do Yemen, do Sudão, etc. E nunca se preocuparam com a liberdade destruída dos palestinos que vivem sob o extremismo islâmico do Hamás. Somente se preocupam em usar o conceito de liberdade palestina, como míssil contra a liberdade israelense.

Uma terrível consequência decrre destas duas patologias ideológicas: a Manipulação jornalística.

Finalmente, não é menor o dano que causa a maioria da imprensa internacional. Sobre o conflito árabeisraelense NÃO SE INFORMA, SE FAZ PROPAGANDA. A maioria da imprensa, quando informa sobre Israel, viola todos os princípios do código de ética do jornalismo. E assim, qualquer ato de defesa de Israel se converte em um massacre e qualquer enfrentamento, em um genocídio. Foram ditas tantas barbaridades, que já não se pode acusar Israel de nada pior. Em paralelo, essa mesma imprensa nunca fala da ingerência do Irã ou da Síria a favor da violência contra Israel; da inculcação do fanatismo nas crianças; da corrupção generalizada na Palestina. E quando fala de vítimas, eleva à categoria de tragédia qualquer vítima palestina, e camufla, esconde ou deprecia as vítimas judias.

Termino com uma nota sobre a esquerda espanhola. Muitos são os exemplos que ilustram o anti-israelismo e o antiamericanismo que definem o DNA da esquerda global espanhola. Por exemplo, um partido de esquerda acaba de expulsar um militante, porque criou uma página de defesa de Israel na internet. Cito frases da expulsão:`Nossos amigos são os povos do Irã, Líbia e Venezuela, oprimidos pelo imperialismo. E não um estado nazista como o de Israel.` Por outro exemplo, a prefeita socialista de Ciempuzuelos mudou o dia da Shoá pelo dia da Nakba palestina, depreciando, assim, a mais de 6 milhões de judeus europeus assassinados. Ou em minha cidade, Barcelona, o grupo socialista decidiu celebrar, durante o 60º. aniversário do Estado de Israel, uma semana de `solidariedade com o povo palestino`. Para ilustrar, convidou Leila Khaled, famosa terrorista dos anos 70, atual líder da Frente de Libertação Palestina, que é uma organização considerada terrorista pela União Européia, que defende o uso das bombas contra Israel. E etc. Este pensamento global, que faz parte do politicamente correto, impregna também o discurso do presidente Zapatero. Sua política exterior recai nos tópicos da esquerda lunática e, a respeito do Oriente Médio, sua atitude é inequivocamente pró-árabe. Estou em condições de assegurar que, em particular, Zapatero considera Israel culpado do conflito, e a política do ministro Moratinos vai nesta direção. O fato de que o presidente colocou uma Kefia palestina, em plena guerra do Líbano, não é um acaso. É um símbolo. A Espanha sofreu o atentado islâmico mais grave da Europa, e `Al Andalus` está na mira de todo o terrorismo islâmico. Como escrevi faz tempo, "nos mataram com celulares via satélite, conectados com a Idade Média". E, sem dúvida, a esquerda espanhola está entre as mais anti-israelenses do planeta. E diz ser anti-israelense por solidariedade! Esta é a loucura que quero denunciar com esta conferência.

CONCLUSÃO

Não sou judia, estou vinculada ideologicamente à esquerda e sou jornalista. Por que não sou anti-israelense como a maioria de meus colegas? Porque como não judia, tenho a responsabilidade histórica de lutar contra o ódio aos judeus, e na atualidade, contra o ódio a sua pátria, Israel. A luta contra o anti-semitismo não é coisa dos judeus, é obrigação dos não judeus, Como jornalista, sou obrigada a buscar a verdade, para além dos preconceitos, das mentiras e das manipulações. E sobre Israel não se diz a verdade. E como pessoa de esquerda, que ama o progresso, sou obrigada a defender a liberdade, a cultura, a convivência, a educação cívica das crianças, todos os princípios que as Tábuas da Lei converteram em princípios universais.

Princípios que o islamismo fundamentalista destrói sistematicamente. Quer dizer, como não judia, jornalista de esquerda tenho um tríplice compromisso moral com Israel.

Porque, se Israel for derrotado, serão derrotadas a modernidade, a cultura e a liberdade. A luta de Israel, ainda que n mundo não queira saber, é a luta do mundo.

sábado, 5 de junho de 2010

Ah, Esses Humanistas!!! Ou: Quero Liderar Uma Expedição Humanitária Ao Irã

Eu quero liderar uma frota humanitária de ajuda ao povo iraniano. Se eu decidir me aproximar o Irã ali pelas águas do Golfo Pérsico, numa embarcação israelense, quais são as chances eu tenho de sair vivo desse meu ato humanitário? Ah, eu também lastimo os dez mortos da tal frota. Os “humanistas” que tentaram furar o bloqueio a Gaza, tenho de reconhecer, já saíram vitoriosos. Dez pessoas morreram. Mas o que são 10, 10 mil ou 10 milhões de mortos para esses amantes da humanidade? Nada! Os cadáveres que produzem são o sal da terra de sua luta.

É evidente que a frota humanitária, liderada por uma “ONG” turca (!!!), era uma provocação destinada a provocar o que provocou. Ainda que se possa discutir se o bloqueio é justo ou injusto, é evidente que ele não seria quebrado à força, pouco importa o pretexto — no caso, levar alimentos e ajuda humanitária.

O governo de Israel diz que a agressão partiu dos “humanistas”, que teriam sacado contra seus soldados. A chance de que essa versão seja ao menos considerada é nula. Nem mesmo se noticia que furar um bloqueio militar corresponde a provocar homens preparados para a guerra, pouco importa quem o pratique. A versão que prospera é a de que pobres inocentes levando comida para os palestinos foram assassinados por brucutus israelenses.

Quem liderava o grupo? Uma ONG turca conhecida pela sigla IHH. Quem comanda a dita-cuja? Um senhor chamado Bülent Yildirim. A IHH é mais uma dessas entidades que usam ações humanitárias para esconder o apoio ao terrorismo. Na foto acima, vemos Yildirim, que costuma comparar a situação dos palestinos em Gaza à dos judeus nos campos de concentração nazistas, em companhia de Ismail Haniya, o chefão do Hamas, grupo terrorista que governa Gaza. Há indícios de ligações da IHH com o jihadismo, especialmente a Al Qaeda. Volto ao assunto, mas encerro este post com uma indagação: por que os humanistas não tentaram furar o bloqueio à Gaza pelo lado egípcio, por exemplo?

Reinaldo Azevedo, colunista da Veja. Publicado: Blog do Reinaldo na Veja

Os Piratas Da Paz

O choque entre a marinha israelense e a Flotilha da Liberdade levantou ondas de protesto e indignação no mundo e imediato tsunami condenatório sobre Israel. Mas a maré está baixando e emergem algumas verdades que naufragaram sob o peso do coro dos pacifistas – na verdade, piratas da paz.

A primeira verdade: rejeitados apelos e propostas para evitar o confronto, já que a Flotilha da Liberdade estava decidida a furar o bloqueio militar, comandos israelenses começaram a descer por corda de um helicóptero no navio turco Mavi Marmara. Um a um, os soldados foram recebidos pelos militantes dos direitos humanos a golpes de barra de ferro, facadas e pauladas. Um foi jogado ao mar. De outro retiraram o fuzil. Um linchamento, contido a tiros.

A segunda verdade: Israel se deixou cair na armadilha. A Flotilha da Liberdade, organizada pelo movimento Gaza Livre e a ONG turca Insani Yardim Vakfi, dispunha de um canal aberto pelos israelenses para levar sua ajuda humanitária até Gaza. Só ancorar em Ashdod, passar pela alfândega e seguir pela estrada, tão curta que os mísseis do Hamas a atravessam inteira. Mas não: Bülent Yildrim, o humanitário-pacifista-chefe turco, é amigão de Ismail Haniya, o chefão do Hamas. Aos dois conviriam alguns mártires. E agora eles os exibem ao mundo.

A terceira verdade. Por que abordar a Flotilha da Liberdade? Esta era uma pergunta que se fazia ontem em Israel, país de tantos estrategistas de guerra quantos de técnicos de futebol no Brasil. A marinha poderia simplesmente bloquear o caminho. Ante alguma insistência, elevar o tom: um disparo de advertência. Teimosia? Acertar as máquinas dos navios e deixá-los singrar a esmo nas turbulentas águas políticas do Oriente Médio.

Yasser Arafat também quis navegar contra Israel. Em 1988, batizou um navio de O Retorno e o lotou de refugiados palestinos. O serviço secreto israelense o esperou ancorar em Chipre, escala também da Flotilha da Liberdade, e o sabotou ao ponto de só navegar a remo. Ironia do destino: Arafat partiu para o exílio num navio chamado Atlântida, o continente e sua Palestina perdidos. Uma opção final seria deixar um só dos seis navios ir até Gaza, sob escolta, sem considerar um precedente aberto.

A quarta verdade. Foi um massacre: durante o dia inteiro, o tsunami contra Israel rendeu bandeiras queimadas, protestos diante de embaixadas, passeatas, declarações oficiais de protesto e deixou até o nosso chanceler Celso Amorim "chocado", ele que não se abala com os mortos de Teerã e nem de Cuba. Os israelenses sempre perdem a guerra de Hasbará, palavra hebraica para esclarecimento. Quando pensam em esclarecer, o barulho da maioria automática do mundo árabe os sufoca. Em qualquer situação, serão culpados.

Uma Flotilha da Liberdade jamais tentará aportar no Irã, na Coréia do Norte ou em Havana. Há pouco tempo, os turcos ameaçavam romper com Israel se não recebessem armas israelenses que compraram.

São as contradições israelenses. Uma é armar o seu próprio inimigo. Outra: ontem à noite, membros do Conselho de Segurança da ONU pediram que Israel acabe com o bloqueio a Gaza – e foi o que Israel fez, exatamente, em 2005, para então virar o alvo de uma chuva constante de mísseis contra sua população civil – e daí o bloqueio e a Flotilha da Liberdade.

Moisés Rabinovici , correspondente em Israel entre os anos de 1979 a 84

domingo, 30 de maio de 2010

"Feio quanto parece"

Por Thomas L. Friedman, do The New York Times

Confesso que quando vi a foto do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, com seu colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e o premier turco, Recep Tayyip Erdogan, de braços levantados, depois de assinar o acordo para supostamente desarmar a crise sobre o programa nuclear iraniano, tudo o que pude pensar foi: há algo pior do que assistir a democratas vendendo outros democratas a um criminoso iraniano, que nega o Holocausto e frauda eleições, só para implicar com os EUA e mostrar que eles também podem tomar parte do jogo dos poderosos? Durante anos, países não alinhados e em desenvolvimento acusaram os EUA de satisfazer cinicamente seus interesses, sem levar em conta os direitos humanos, observou Karim Sadjadpour, da Carnegie Endowment. À medida que Turquia e Brasil aspiram a atuar globalmente, vão se defrontar com as mesmas críticas que antes faziam. A visita de Lula e Erdogan ocorreu dias após o Irã executar cinco prisioneiros políticos. Eles abraçaram Ahmadinejad, mas nada disseram sobre direitos humanos.

Turquia e Brasil são democracias nascentes que superaram suas próprias ditaduras militares. É vergonhoso que seus líderes fortaleçam um presidente que usa o exército para matar democratas iranianos que buscam a mesma liberdade política e de expressão de que turcos e brasileiros hoje desfrutam. Lula é um gigante político, mas moralmente tem sido decepcionante, disse Moisés Naím, editor da revista Foreign Policy. Lula tem apoiado os que frustram a democracia na América Latina, observou. Ele regularmente elogia Hugo Chávez, da Venezuela, e o ditador cubano Fidel Castro e agora Ahmadinejad , enquanto denuncia a Colômbia, uma das histórias democráticas de sucesso, porque o país permitiu que os EUA usem bases locais para combater o narcotráfico. Lula tem sido ótimo para o Brasil, mas terrível para seus vizinhos democráticos, disse Naím. Lula se tornou conhecido como líder dos trabalhadores no Brasil, mas virou as costas a líderes dos trabalhadores duramente reprimidos no Irã.

O Irã tem hoje 2.200 quilos de urânio com baixo teor de enriquecimento. Pelo acordo do dia 17, o país supostamente concordou em enviar 1.200 quilos à Turquia para conversão em combustível para seu reator médico em Teerã que não pode ser usado para uma bomba. Mas isto ainda deixaria o Irã com cerca de 1.000 quilos, que o país continua se recusando a submeter à inspeção internacional e está livre para continuar a reprocessar aos elevados níveis de enriquecimento requeridos para a bomba. Especialistas afirmam que o Irã levaria seis meses para acumular novamente quantidade suficiente para uma arma nuclear. Assim, o que esse acordo faz é o que o Irã queria: enfraquecer a coalizão que pressiona o país a abrir suas instalações nucleares aos inspetores da ONU e, como um bônus especial, legitima Ahmadinejad no primeiro aniversário da repressão ordenada por ele contra o movimento democrático iraniano, que pedia uma recontagem dos votos das eleições fraudulentas de 2009. A meu ver, a Revolução Verde no Irã é o mais importante movimento democrático espontâneo a surgir no Oriente Médio em décadas. Ele foi suprimido mas não desapareceu e, no final das contas, seu sucesso é a única fonte de segurança e estabilidade.

É como me disse Abbas Milani, da Universidade de Stanford: A única solução de longo prazo para o impasse é um regime mais democrático, responsável e transparente em Teerã. Os clérigos iranianos praticam com sucesso um grande jogo de enganação ao fazer da questão nuclear quase o único ponto focal de suas relações com os EUA e o Ocidente. Estes deveriam ter adotado uma política de duas vias: sérias negociações sobre a questão nuclear e não menos sérias discussões sobre direitos humanos e democracia no Irã. Preferiria que o Irã nunca tivesse a bomba. O mundo seria muito mais seguro sem novas armas nucleares, especialmente no Oriente Médio. Mas se o Irã conseguir, fará uma grande diferença se o dedo no gatilho for o de um Irã democrático ou o da atual ditadura religiosa e criminosa. Quem trabalhar para adiar isto e promover a democracia no Irã estará ao lado dos anjos. Quem ajudar esse regime tirânico e der cobertura a sua maldade nuclear um dia terá de prestar contas ao povo iraniano

Publicado em O Globo (27 de Maio de 2010)