É consenso, a esta altura, que os EUA e a União Européia buscaram a aprovação no Conselho de Segurança da ONU de uma nova rodada de sanções ao Irã, ainda que tímidas, como uma espécie de autorização moral e aviso prévio para sanções mais duras, aí impostas por americanos e europeus. Trata-se de uma etapa. Se o Irã não recuar ou aceitar negociar…
“Não vamos suspender o enriquecimento de urânio”, disse Ali Ashgar Soltanieh, enviado iraniano à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), incluindo o enriquecimento a 20%. Segundo disse, tal hipótese só seria considerada se o país recebesse o combustível de alta concentração das potências ocidentais. É uma alusão àquele suposto “acordo” costurado por Brasil e Turquia. Ocorre que, no dia mesmo do anúncio do dito-cujo, o país reiterou que daria seqüência a seu programa de enriquecimento. Ainda que se efetivasse a troca, os iranianos ficariam com pelo menos uma tonelada do combustível, o bastante para produzir uma ou duas armas nucleares, estima-se.
A esta altura, como diria o megalonanico Celso Amorim, é de se supor que Mahmoud Ahmadionejad esteja “irritado”, coisa que o Brasil tentou evitar, segundo o nosso Colosso de Rhodes da diplomacia. A questão é saber em quais termos ele se irrita. O presidente do Irã está na China, onde participa do “Dia do Irã” na Exposição Mundial de Xangai. Deixou muito claro qual é, literalmente, o seu alvo.
Segundo esse grande aliado do governo brasileiro, os EUA são hoje “governados por sionistas” a serviço de Israel. E refletiu: “Se [os isralenses] atacam o Líbano, os Estados Unidos apóiam; se atacam Gaza, os americanos apóiam; se atacam a ‘Flotilha da Paz’ no mar, a administração americana está por trás (…) Hoje, este regime sionista [de Israel] é o mais odiado do mundo”.
Ahmdinejad não disse, obviamente, por que Israel “atacou” o Líbano (na verdade, atacou os terroristas do Hezbollah) ou Gaza (na verdade, atacou os terroristas do Hamas). Numa coisa, no entanto, ele tem certa razão: aquilo que ele chama de “regime sionista” — o governo democraticamente eleito de Israel, o que o seu jamais será — é mesmo um dos mais “odiados”, ao menos na imprensa iraniana e, tragicamente, em parte da imprensa ocidental, incluindo a brasileira. Basta que terroristas e filoterroristas falem “em nome” da causa palestina e assumem logo a condição de heróis. O mundo não consegue enxergar outras vítimas no Oriente Médio.
Ahmdinejad também resolveu fazer digressões sobre o governo americano — afinadíssimo, como vocês vão notar, com o governo brasileiro e o Itamaraty. “A administração dos Estados Unidos sacrificou os interesses de seu povo pelos dos sionistas”. Certa feita, Lula tentou dar alguns conselhos a Barack Obama na condição de “políticos mais experiente”. Ahmadinejad faz o mesmo: “Talvez [Obama] seja muito imaturo; acho que não conhece muito bem o mundo nem está muito familiarizado com os assuntos políticos”. Repetindo Marco Aurélio Top Top Garcia, Ahmadinejad afirmou que as sanções são uma derrota para os… EUA!
É com esse tipo de gente que se está lidando e é com esse tipo de gente que o Brasil se juntou — e, por um triz, não ficou sozinho no apoio incondicional ao Irã. A Turquia havia decidido de abster no Conselho de Segurança da ONU. Amorim teve quase de implorar um voto solidário.
E se as potências tivessem desistido das sanções? Ahmadinejad teria cantado vitória contra o Império Decadente do Mal e os sionistas. Como elas foram aprovadas, então ele canta vitória contra o Império Decadente do Mal e os sionistas…
Viram? O Brasil não aceita mais aquele mundo em que, como diria o Zóio Junto, “americanos e sionistas” dão as cartas. O Itamaraty quer um mundo em que Arhmadinejad, o Hezbollah e o Hamas participem do jogo em igualdade de condições. O terrorismo está vencendo a guerra de propaganda. Na nossa imprensa, por exemplo, com as exceções de sempre, ele já é emplamente vitorioso.
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