domingo, 20 de junho de 2010

O antissemitismo é novamente politicamente correto

Leon de Winter, romancista holandês

É um fenômeno fascinante: Por que as pessoas e organizações que se apresentam como progressistas se unem a muçulmanos reacionários? O grupo “Free Gaza” se mostra apenas como uma aliança de esquerda islâmica. Bem, Gaza já está livre. Israel retirou-se da estreita faixa há cinco anos. E também não há necessidade de qualquer ajuda humanitária. Mais de um milhão de toneladas de suprimentos humanitários entrou em Gaza proveniente de Israel nos últimos 18 meses, o equivalente a quase uma tonelada de ajuda para cada homem, mulher e criança na região.

Mas a população de Gaza votou em eleições democráticas para serem governados por um partido cujo ódio aos judeus é a pedra fundamental da sua existência. Qualquer um que duvide disso deve ler o manifesto do Hamas na Internet.

O fato de que Gaza está completamente "livre de judeus" não é suficiente para o Hamas. Eles querem que Israel também seja "livre de judeus". O bloqueio de Israel para "produtos estratégicos" não foi concebido para punir o povo palestino, mas para impedir o Hamas de obter armas pesadas e construir abrigos subterrâneos. Uma idéia simples de entender.

Por exemplo, ao contrário de Gaza, a Chechênia não é livre. Os russos esmagaram a luta pela independência dos chechenos com o bombardeamento intensivo de sua capital. E o que dizer de um estado curdo? Os turcos e iraquianos infligiram horrores inimagináveis contra os curdos. No entanto, apesar disso, não há a “Flotilha Livre do Curdistão” indo em direção a Turquia, e as autoridades russas não têm medo de serem presas em capitais européias por crimes de guerra.

Aqui estão mais alguns fatos. Vamos observar a taxa de mortalidade infantil em Gaza. Este é um número chave, que diz muito sobre as condições de higiene, nutrição e cuidados com a saúde. Em Israel, a taxa de mortalidade infantil é de 4,17 por 1.000 nascimentos, o que é aproximadamente o mesmo que nos países ocidentais. No Sudão a taxa é de 78,1, ou seja, uma em cada 13 crianças morrem ao nascer. Em Gaza, a mortalidade infantil, por 1.000 nascimentos é 17,71. Sim, este número é maior do que em Israel, mas muito menor do que no Sudão. E a taxa de mortalidade infantil da Turquia? Bem, isso é 24,84. Sim, mais crianças morrem ao nascer na Turquia do que em Gaza.

Aqui está outro fato. A expectativa de vida é 73 anos em Gaza. E na Turquia, novo protetor de Gaza, a expectativa de vida é de apenas 72 anos. Se os israelenses realmente queriam tornar a vida dos palestinos curta e desagradável, então eles estão obviamente fazendo algo errado. Os progressistas não ligam para qualquer outro grupo de muçulmanos pobres ou oprimidos. Eles só clamam pelas "vítimas" dos judeus. Por que isso acontece? Uma das razões é Yasser Arafat, cujo gênio foi redefinir a causa palestina na retórica neo-marxista e antiimperialista. Ele criou um novo contexto para o seu povo: a luta contra o colonialismo e o racismo. Ele era um líder corrupto clássico com um talento incrível para jogar com a mídia e os políticos ocidentais. Os progressistas adotaram os palestinos como seus favoritos, a vítima quintessência do imperialismo e do colonialismo, como resumido pelo estado sionista.

Mas há outra razão pela qual os progressistas ocidentais odeiam Israel, mas são indiferentes para as violações dos direitos humanos na Turquia, Irã ou Rússia. Isto por causa do Holocausto. Os europeus, que representam muito do que vai para a opinião pública mundial, se cansaram de carregar a culpa pela destruição dos judeus do continente. Eles começaram a sonhar com alguma forma de libertação histórica. Isso está vindo na forma de resposta militar de Israel aos ataques islâmicos e terroristas.

Os europeus não poderiam perder a oportunidade de difamar os judeus e redefinir as medidas de defesa de Israel como “desproporcional” ou total agressão - em outras palavras, crimes de guerra. Na visão dos progressistas europeus, o conflito Israel-Palestina tornou-se um conflito sem comparação, um fenômeno único de vítimas européias gerando vítimas palestinas, que parecia diminuir o peso dos europeus sobre o massacre do povo judeu. Assistindo a demonização de Israel, o ataque ao seu direito de defesa, como disse o primeiro-ministro Benyamin Netanyahu, torna-se claro que existe uma necessidade profunda entre os europeus em chamar os judeus de assassinos. É por isso que os palestinos, como "vítimas" dos judeus, são mais importantes que as numerosas vítimas muçulmanas dos extremistas também muçulmanos.

É por isso que milhões de outros muçulmanos que vivem em piores condições do que os palestinos dificilmente recebem qualquer menção na mídia. É por isso que Gaza é comparada com o Gueto de Varsóvia e Auschwitz. Ao chamar os israelenses de nazistas, os verdadeiros nazistas foram legitimados. É como se os europeus, liderados pelos progressistas, desejassem que os árabes terminassem o trabalho. Chega com os judeus. Isto é o que é: a libertação da Europa do legado do Holocausto.

Por décadas, os nossos progressistas, ativistas pacifistas ocidentais, foram enganados e manipulados por árabes tiranos e agora por turcos e iranianos islamitas. Eles estão ajudando nos esforços para destruir um dos maiores sucessos dos tempos modernos: a criação do Estado de Israel. O que temos assistido com a frota de Gaza é a execução perfeita de uma obra magistral de teatro islâmico. A indignação selvagem da mídia, um orgasmo de hipocrisia, marca o próximo capítulo da longa história do ódio dos europeus contra os judeus.

É politicamente correto, novamente, ser um antissemita.

Publicado no Wall Street Journal

domingo, 13 de junho de 2010

ESTE É O ALIADO DE LULA E DE CELSO AMORIM. OU: O TERRORISMO ESTÁ VENCENDO A GUERRA DE PROPAGANDA

Reinaldo Azevedo

É consenso, a esta altura, que os EUA e a União Européia buscaram a aprovação no Conselho de Segurança da ONU de uma nova rodada de sanções ao Irã, ainda que tímidas, como uma espécie de autorização moral e aviso prévio para sanções mais duras, aí impostas por americanos e europeus. Trata-se de uma etapa. Se o Irã não recuar ou aceitar negociar…

“Não vamos suspender o enriquecimento de urânio”, disse Ali Ashgar Soltanieh, enviado iraniano à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), incluindo o enriquecimento a 20%. Segundo disse, tal hipótese só seria considerada se o país recebesse o combustível de alta concentração das potências ocidentais. É uma alusão àquele suposto “acordo” costurado por Brasil e Turquia. Ocorre que, no dia mesmo do anúncio do dito-cujo, o país reiterou que daria seqüência a seu programa de enriquecimento. Ainda que se efetivasse a troca, os iranianos ficariam com pelo menos uma tonelada do combustível, o bastante para produzir uma ou duas armas nucleares, estima-se.

A esta altura, como diria o megalonanico Celso Amorim, é de se supor que Mahmoud Ahmadionejad esteja “irritado”, coisa que o Brasil tentou evitar, segundo o nosso Colosso de Rhodes da diplomacia. A questão é saber em quais termos ele se irrita. O presidente do Irã está na China, onde participa do “Dia do Irã” na Exposição Mundial de Xangai. Deixou muito claro qual é, literalmente, o seu alvo.

Segundo esse grande aliado do governo brasileiro, os EUA são hoje “governados por sionistas” a serviço de Israel. E refletiu: “Se [os isralenses] atacam o Líbano, os Estados Unidos apóiam; se atacam Gaza, os americanos apóiam; se atacam a ‘Flotilha da Paz’ no mar, a administração americana está por trás (…) Hoje, este regime sionista [de Israel] é o mais odiado do mundo”.

Ahmdinejad não disse, obviamente, por que Israel “atacou” o Líbano (na verdade, atacou os terroristas do Hezbollah) ou Gaza (na verdade, atacou os terroristas do Hamas). Numa coisa, no entanto, ele tem certa razão: aquilo que ele chama de “regime sionista” — o governo democraticamente eleito de Israel, o que o seu jamais será — é mesmo um dos mais “odiados”, ao menos na imprensa iraniana e, tragicamente, em parte da imprensa ocidental, incluindo a brasileira. Basta que terroristas e filoterroristas falem “em nome” da causa palestina e assumem logo a condição de heróis. O mundo não consegue enxergar outras vítimas no Oriente Médio.

Ahmdinejad também resolveu fazer digressões sobre o governo americano — afinadíssimo, como vocês vão notar, com o governo brasileiro e o Itamaraty. “A administração dos Estados Unidos sacrificou os interesses de seu povo pelos dos sionistas”. Certa feita, Lula tentou dar alguns conselhos a Barack Obama na condição de “políticos mais experiente”. Ahmadinejad faz o mesmo: “Talvez [Obama] seja muito imaturo; acho que não conhece muito bem o mundo nem está muito familiarizado com os assuntos políticos”. Repetindo Marco Aurélio Top Top Garcia, Ahmadinejad afirmou que as sanções são uma derrota para os… EUA!

É com esse tipo de gente que se está lidando e é com esse tipo de gente que o Brasil se juntou — e, por um triz, não ficou sozinho no apoio incondicional ao Irã. A Turquia havia decidido de abster no Conselho de Segurança da ONU. Amorim teve quase de implorar um voto solidário.

E se as potências tivessem desistido das sanções? Ahmadinejad teria cantado vitória contra o Império Decadente do Mal e os sionistas. Como elas foram aprovadas, então ele canta vitória contra o Império Decadente do Mal e os sionistas…

Viram? O Brasil não aceita mais aquele mundo em que, como diria o Zóio Junto, “americanos e sionistas” dão as cartas. O Itamaraty quer um mundo em que Arhmadinejad, o Hezbollah e o Hamas participem do jogo em igualdade de condições. O terrorismo está vencendo a guerra de propaganda. Na nossa imprensa, por exemplo, com as exceções de sempre, ele já é emplamente vitorioso.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Em Defesa de Israel

Por Pilar Rahola

Por que não vemos manifestações em Paris, ou em Londres, ou em Barcelona contra as ditaduras islâmicas? Por que não as fazem contra a ditadura birmanesa? Por que não há manifestações contra a escravidão de milhões de mulheres que vivem sem nenhum amparo legal? Por que não se manifestam contra o uso de "crianças bomba", nos conflitos onde o Islã está envolvido? Por que nunca lideraram a luta a favor das vítimas da terrível ditadura islâmica do Sudão? Por que nunca se comoveram pelas vítimas de atos terroristas em Israel? Por que não consideram a luta contra o fanatismo islâmico, uma de suas principais causas? Por que não defendem o direito de Israel de se defender e de existir? Por que confundem a defesa da causa palestina, com a justificação do terrorismo palestino?

E a pergunta do "milhão", por que a esquerda européia, e globalmente toda a esquerda, estão obcecadas somente em lutar contra as democracias mais sólidas do planeta, Estados Unidos e Israel, e não contra as piores ditaduras? As duas democracias mais sólidas, e as que sofreram os mais sangrentos atentados do terrorismo mundial. E a esquerda não está preocupada por isso.

E finalmente, o conceito de compromisso com a liberdade. Ouço essa expressão em todos os foros pró-palestinos europeus. "Somos a favor da liberdade dos povos", dizem com ardor. Não é verdade. Nunca se preocuparam com a liberdade dos cidadãos da Síria, do Irã, do Yemen, do Sudão, etc. E nunca se preocuparam com a liberdade destruída dos palestinos que vivem sob o extremismo islâmico do Hamás. Somente se preocupam em usar o conceito de liberdade palestina, como míssil contra a liberdade israelense.

Uma terrível consequência decrre destas duas patologias ideológicas: a Manipulação jornalística.

Finalmente, não é menor o dano que causa a maioria da imprensa internacional. Sobre o conflito árabeisraelense NÃO SE INFORMA, SE FAZ PROPAGANDA. A maioria da imprensa, quando informa sobre Israel, viola todos os princípios do código de ética do jornalismo. E assim, qualquer ato de defesa de Israel se converte em um massacre e qualquer enfrentamento, em um genocídio. Foram ditas tantas barbaridades, que já não se pode acusar Israel de nada pior. Em paralelo, essa mesma imprensa nunca fala da ingerência do Irã ou da Síria a favor da violência contra Israel; da inculcação do fanatismo nas crianças; da corrupção generalizada na Palestina. E quando fala de vítimas, eleva à categoria de tragédia qualquer vítima palestina, e camufla, esconde ou deprecia as vítimas judias.

Termino com uma nota sobre a esquerda espanhola. Muitos são os exemplos que ilustram o anti-israelismo e o antiamericanismo que definem o DNA da esquerda global espanhola. Por exemplo, um partido de esquerda acaba de expulsar um militante, porque criou uma página de defesa de Israel na internet. Cito frases da expulsão:`Nossos amigos são os povos do Irã, Líbia e Venezuela, oprimidos pelo imperialismo. E não um estado nazista como o de Israel.` Por outro exemplo, a prefeita socialista de Ciempuzuelos mudou o dia da Shoá pelo dia da Nakba palestina, depreciando, assim, a mais de 6 milhões de judeus europeus assassinados. Ou em minha cidade, Barcelona, o grupo socialista decidiu celebrar, durante o 60º. aniversário do Estado de Israel, uma semana de `solidariedade com o povo palestino`. Para ilustrar, convidou Leila Khaled, famosa terrorista dos anos 70, atual líder da Frente de Libertação Palestina, que é uma organização considerada terrorista pela União Européia, que defende o uso das bombas contra Israel. E etc. Este pensamento global, que faz parte do politicamente correto, impregna também o discurso do presidente Zapatero. Sua política exterior recai nos tópicos da esquerda lunática e, a respeito do Oriente Médio, sua atitude é inequivocamente pró-árabe. Estou em condições de assegurar que, em particular, Zapatero considera Israel culpado do conflito, e a política do ministro Moratinos vai nesta direção. O fato de que o presidente colocou uma Kefia palestina, em plena guerra do Líbano, não é um acaso. É um símbolo. A Espanha sofreu o atentado islâmico mais grave da Europa, e `Al Andalus` está na mira de todo o terrorismo islâmico. Como escrevi faz tempo, "nos mataram com celulares via satélite, conectados com a Idade Média". E, sem dúvida, a esquerda espanhola está entre as mais anti-israelenses do planeta. E diz ser anti-israelense por solidariedade! Esta é a loucura que quero denunciar com esta conferência.

CONCLUSÃO

Não sou judia, estou vinculada ideologicamente à esquerda e sou jornalista. Por que não sou anti-israelense como a maioria de meus colegas? Porque como não judia, tenho a responsabilidade histórica de lutar contra o ódio aos judeus, e na atualidade, contra o ódio a sua pátria, Israel. A luta contra o anti-semitismo não é coisa dos judeus, é obrigação dos não judeus, Como jornalista, sou obrigada a buscar a verdade, para além dos preconceitos, das mentiras e das manipulações. E sobre Israel não se diz a verdade. E como pessoa de esquerda, que ama o progresso, sou obrigada a defender a liberdade, a cultura, a convivência, a educação cívica das crianças, todos os princípios que as Tábuas da Lei converteram em princípios universais.

Princípios que o islamismo fundamentalista destrói sistematicamente. Quer dizer, como não judia, jornalista de esquerda tenho um tríplice compromisso moral com Israel.

Porque, se Israel for derrotado, serão derrotadas a modernidade, a cultura e a liberdade. A luta de Israel, ainda que n mundo não queira saber, é a luta do mundo.

sábado, 5 de junho de 2010

Ah, Esses Humanistas!!! Ou: Quero Liderar Uma Expedição Humanitária Ao Irã

Eu quero liderar uma frota humanitária de ajuda ao povo iraniano. Se eu decidir me aproximar o Irã ali pelas águas do Golfo Pérsico, numa embarcação israelense, quais são as chances eu tenho de sair vivo desse meu ato humanitário? Ah, eu também lastimo os dez mortos da tal frota. Os “humanistas” que tentaram furar o bloqueio a Gaza, tenho de reconhecer, já saíram vitoriosos. Dez pessoas morreram. Mas o que são 10, 10 mil ou 10 milhões de mortos para esses amantes da humanidade? Nada! Os cadáveres que produzem são o sal da terra de sua luta.

É evidente que a frota humanitária, liderada por uma “ONG” turca (!!!), era uma provocação destinada a provocar o que provocou. Ainda que se possa discutir se o bloqueio é justo ou injusto, é evidente que ele não seria quebrado à força, pouco importa o pretexto — no caso, levar alimentos e ajuda humanitária.

O governo de Israel diz que a agressão partiu dos “humanistas”, que teriam sacado contra seus soldados. A chance de que essa versão seja ao menos considerada é nula. Nem mesmo se noticia que furar um bloqueio militar corresponde a provocar homens preparados para a guerra, pouco importa quem o pratique. A versão que prospera é a de que pobres inocentes levando comida para os palestinos foram assassinados por brucutus israelenses.

Quem liderava o grupo? Uma ONG turca conhecida pela sigla IHH. Quem comanda a dita-cuja? Um senhor chamado Bülent Yildirim. A IHH é mais uma dessas entidades que usam ações humanitárias para esconder o apoio ao terrorismo. Na foto acima, vemos Yildirim, que costuma comparar a situação dos palestinos em Gaza à dos judeus nos campos de concentração nazistas, em companhia de Ismail Haniya, o chefão do Hamas, grupo terrorista que governa Gaza. Há indícios de ligações da IHH com o jihadismo, especialmente a Al Qaeda. Volto ao assunto, mas encerro este post com uma indagação: por que os humanistas não tentaram furar o bloqueio à Gaza pelo lado egípcio, por exemplo?

Reinaldo Azevedo, colunista da Veja. Publicado: Blog do Reinaldo na Veja

Os Piratas Da Paz

O choque entre a marinha israelense e a Flotilha da Liberdade levantou ondas de protesto e indignação no mundo e imediato tsunami condenatório sobre Israel. Mas a maré está baixando e emergem algumas verdades que naufragaram sob o peso do coro dos pacifistas – na verdade, piratas da paz.

A primeira verdade: rejeitados apelos e propostas para evitar o confronto, já que a Flotilha da Liberdade estava decidida a furar o bloqueio militar, comandos israelenses começaram a descer por corda de um helicóptero no navio turco Mavi Marmara. Um a um, os soldados foram recebidos pelos militantes dos direitos humanos a golpes de barra de ferro, facadas e pauladas. Um foi jogado ao mar. De outro retiraram o fuzil. Um linchamento, contido a tiros.

A segunda verdade: Israel se deixou cair na armadilha. A Flotilha da Liberdade, organizada pelo movimento Gaza Livre e a ONG turca Insani Yardim Vakfi, dispunha de um canal aberto pelos israelenses para levar sua ajuda humanitária até Gaza. Só ancorar em Ashdod, passar pela alfândega e seguir pela estrada, tão curta que os mísseis do Hamas a atravessam inteira. Mas não: Bülent Yildrim, o humanitário-pacifista-chefe turco, é amigão de Ismail Haniya, o chefão do Hamas. Aos dois conviriam alguns mártires. E agora eles os exibem ao mundo.

A terceira verdade. Por que abordar a Flotilha da Liberdade? Esta era uma pergunta que se fazia ontem em Israel, país de tantos estrategistas de guerra quantos de técnicos de futebol no Brasil. A marinha poderia simplesmente bloquear o caminho. Ante alguma insistência, elevar o tom: um disparo de advertência. Teimosia? Acertar as máquinas dos navios e deixá-los singrar a esmo nas turbulentas águas políticas do Oriente Médio.

Yasser Arafat também quis navegar contra Israel. Em 1988, batizou um navio de O Retorno e o lotou de refugiados palestinos. O serviço secreto israelense o esperou ancorar em Chipre, escala também da Flotilha da Liberdade, e o sabotou ao ponto de só navegar a remo. Ironia do destino: Arafat partiu para o exílio num navio chamado Atlântida, o continente e sua Palestina perdidos. Uma opção final seria deixar um só dos seis navios ir até Gaza, sob escolta, sem considerar um precedente aberto.

A quarta verdade. Foi um massacre: durante o dia inteiro, o tsunami contra Israel rendeu bandeiras queimadas, protestos diante de embaixadas, passeatas, declarações oficiais de protesto e deixou até o nosso chanceler Celso Amorim "chocado", ele que não se abala com os mortos de Teerã e nem de Cuba. Os israelenses sempre perdem a guerra de Hasbará, palavra hebraica para esclarecimento. Quando pensam em esclarecer, o barulho da maioria automática do mundo árabe os sufoca. Em qualquer situação, serão culpados.

Uma Flotilha da Liberdade jamais tentará aportar no Irã, na Coréia do Norte ou em Havana. Há pouco tempo, os turcos ameaçavam romper com Israel se não recebessem armas israelenses que compraram.

São as contradições israelenses. Uma é armar o seu próprio inimigo. Outra: ontem à noite, membros do Conselho de Segurança da ONU pediram que Israel acabe com o bloqueio a Gaza – e foi o que Israel fez, exatamente, em 2005, para então virar o alvo de uma chuva constante de mísseis contra sua população civil – e daí o bloqueio e a Flotilha da Liberdade.

Moisés Rabinovici , correspondente em Israel entre os anos de 1979 a 84