sábado, 17 de abril de 2010

Sangue no verde-e-amarelo

Clóvis Rossi*

BRASÍLIA - Faz um mês, depois de visitar o Yad Vashem, o Museu do Holocausto, em Jerusalém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que "a visita deveria ser quase obrigatória para todos os que querem dirigir uma nação". Seria, achava Lula, um modo de entender o "que pode acontecer quando a irracionalidade toma conta do ser humano".

O que faz depois o governo brasileiro? Recomenda a Mahmoud Ahmadinejad, o presidente do Irã, que visite o Yad Vashem? Não, ao contrário. O ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), que, aliás, estava na visita ao museu de Jerusalém, entrega com um sorriso a camisa verde-e-amarela ao homem que nunca vai visitar o Yad Vashem, não só porque nega o Holocausto mas porque regularmente prega a "aniquilação" dos judeus.

É esse carinho absurdo o problema real das relações Brasil/Irã, e não a posição brasileira de preferir o diálogo às sanções para forçar o regime dos aiatolás a desenvolver um programa nuclear só para fins pacíficos.

Essa é matéria opinável. Tampouco é um problema o fato de Miguel Jorge e comitiva empresarial estarem em Teerã para fazer negócios. Desde sempre, países fazem negócios com quem lhes convêm, sem olhar minimamente para o caráter do regime com o qual negociam.

O que não é tolerável é fazer carinho em quem prende, tortura e mata os opositores, em quem limita brutalmente as liberdades públicas.

A Anistia Internacional divulgou faz pouco relatório em que aponta a execução de ao menos 112 pessoas no Irã nas oito semanas que se seguiram à reeleição de Ahmadinejad, vivamente contestada.

São mais de duas execuções por dia, quase o dobro da média dos seis meses anteriores à votação.

O gesto do governo brasileiro cobriu de sangue, pois, a camisa verde-e-amarela.

*Clóvis Rossi faz parte do Conselho Editorial da Folha de São Paulo

crossi@uol.com.br

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