Recife - PE, 27 de janeiro de 2010
Meu caro amigo e governador do estado de Pernambuco, Eduardo Campos, e sua companheira Renata Campos, Minha querida companheira Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil, Ministros que em acompanham nesta delegação, Alfredo Manevy, interino da Cultura; Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente; Franklin Martins, da Comunicação Social; Edson Santos, de Política de Promoção da Igualdade Racial, Meu caro amigo João Lyra Neto, vice-governador do estado de Pernambuco e sua senhora Leila Queiroz, Senhor Giora Becher, embaixador de Israel no Brasil, na pessoa de quem cumprimento os demais membros do corpo diplomático aqui presentes, Senador Romero Jucá, líder do governo no Senado, Deputada federal Ana Arraes, Deputados federais Charles Lucena, Fernando Ferro, Marcelo Itagiba e Pedro Eugênio, Senhor e amigo João da Costa Bezerra Filho, prefeito de Recife, e sua senhora Marília Bezerra, Dom Fernando Saburido, arcebispo de Recife e Olinda, Doutor Claudio Lottenberg, presidente da Confederação Israelita do Brasil, na pessoa de quem cumprimento todos os membros da comunidade judaica brasileira, Senhor Ivan Kelner, presidente da Federação Israelita de Pernambuco, na pessoa de quem cumprimento os demais presidentes de federações israelitas aqui presentes, Senhor Jack Terpins, presidente do Congresso Judaico Latino-Americano, Senhor José Safra, Dona Paola Bernstein e senhor Ben Abraham, sobreviventes do Holocausto, Senhor Germano Haiut e Fábio Lispector, Senhores rabinos, Amigos e amigas, companheiros da imprensa pernambucana e da imprensa nacional, Meus amigos e minhas amigas,
Eu me sinto especialmente honrado pela oportunidade de me reunir com os senhores e as senhoras no local onde funcionou a primeira sinagoga das Américas. Daqui partiram aqueles que fundaram a cidade de Amsterdã, a cidade de Nova Amsterdã, Nova York. Espero, modestamente, que esta ocasião ajude a divulgar a existência deste local, cujas paredes guardam a história da inserção da comunidade judaica em um país acolhedor, tolerante e democrático.
Desejo que todos os brasileiros conheçam que aqui, ainda no século XVII, já se materializava a amizade entre dois povos tão diferentes. E desejo, também, que todos os brasileiros judeus conheçam esta sinagoga que faz parte da sua história. Nesse sentido, dou os meus sinceros parabéns, na pessoa da professora Tânia Kaufman, a todos aqueles que contribuem para a preservação, divulgação e manutenção deste tesouro histórico. E agradeço, na pessoa do Ivan Kelner, a todos que se dedicaram a realizar esta singela cerimônia.
Antes de prosseguir, não posso deixar de mencionar a tragédia que o povo do Haiti está vivendo. E lembrar o exemplo dos 20 brasileiros, militares e civis, que lá perderam suas vidas quando trabalhavam pela reconstrução do país. O que nos conforta neste momento é ver a solidariedade do povo brasileiro em favor do povo haitiano. E, nesse sentido, a comunidade judaica em nosso país vem sendo exemplar, como pôde ser visto pelo apoio imediato que o Hospital Israelita Albert Einstein procura dar às vítimas, apesar de todas as dificuldades de acesso.
Peço licença para homenagear aqui aquela que se constitui em um dos importantes símbolos da compaixão e da solidariedade humana: a embaixatriz Roseana Aben-Athar Kipman. Talvez vocês nem saibam que ela – que carrega uma estrela de David no peito – é neta de um judeu, o médico Jayme Aben-Athar, que dedicou a sua vida aos doentes de hanseníase. Ao aconchegar crianças feridas e, em muitos momentos, até mesmo expor sua vida para salvá-las, Roseana expressa o papel que a nossa presença no Haiti tem desde antes do terremoto: compaixão, solidariedade e convicção de que os haitianos podem um dia erguer uma nação que eles mesmos sustentarão.
Minhas amigas e meus amigos;
Esta é a quinta vez consecutiva em que me encontro com a comunidade judaica no Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto – data instituída pelas Nações Unidas também há cinco anos, em referência ao dia em que o exército soviético libertou o campo de extermínio de Auschwitz.
Naquele 27 de janeiro de 1945, o mundo pôde testemunhar, estarrecido, as barbáries e os terrores que afligiram o povo judeu durante a Segunda Guerra. Este momento que envergonha a humanidade não pode e não deve ser esquecido. O Holocausto e suas vítimas devem ser sempre lembrados. Não apenas como uma obrigação de honrar o passado, mas, sobretudo, como um alerta para que tragédias como essa não se repitam nunca mais no futuro.
Como vocês sabem, este é o último ano em que participo desta cerimônia como Presidente da República – e espero que todos os presidentes que me sucederem também participem todos os anos. Por isso quero, nesta ocasião, me deter em um aspecto que julgo essencial para a compreensão da História: o Holocausto, o extermínio em massa, a destruição e a humilhação de tantas vidas, tudo isso só pôde ocorrer porque, antes, a democracia e o respeito aos direitos humanos também foram sendo progressivamente aniquilados.
Os nazistas, em um primeiro momento, demonizaram os comunistas, acusando-os falsamente de incendiar o prédio do Parlamento Alemão em 1933. Com isso, suprimiram o seu direito de se organizar em partido, restrição que em seguida foi imposta aos socialistas, sociais-democratas e todos os demais que não se alinhassem ao nazismo. Desde então, a repressão cresceu em uma espiral devastadora. Atividades sindicais foram restritas. As instituições do estado alemão foram sendo substituídas pelo poder de Hitler e de seus auxiliares diretos. Liberdades e direitos civis, como o habeas corpus, foram extintos. A imprensa foi posta sob censura. Religiosos que levantassem a voz sofriam punições. E os cidadãos que ousassem discordar eram confinados nos chamados “campos de recuperação”, isolando-se, assim, todos aqueles que se opusessem ao nacional-socialismo do Hitler.
Foi dentro deste ambiente de destruição da democracia que se consolidou o caráter racista do regime nazista. Em setembro de 1935, foram editadas as leis que caracterizavam a pureza do sangue alemão, colocavam os judeus como cidadãos de segunda classe e proibiam o matrimônio entre judeus e não judeus. Uma delas, a “Lei da Cidadania”, enunciava literalmente que “um judeu não pode ser um cidadão do Reich. Ele não tem direito a votar em negócios políticos, ele não pode ocupar cargo público”. Com isso, todos os judeus que ocupavam cargos públicos foram obrigados a se aposentar no final daquele ano.
Às leis racistas e autoritárias e à repressão somou-se um dos maiores esforços de propaganda já vistos até hoje. Seu objetivo: alimentar a discriminação e a intolerância, associando uma imagem cada vez mais repulsiva aos judeus, às pessoas com deficiências, aos negros, aos ciganos, aos homossexuais. Parecia impossível que a crueldade comandada, planejada e executada pelo Estado nazista pudesse ir além. Mas o odioso episódio da noite dos cristais quebrados – em novembro de 1938 – viria a explicitar com precisão o objetivo exterminador.
Numa única noite, 91 judeus foram mortos. Outros 25 a 30 mil foram presos e levados para campos de concentração. Cerca de 7,5 mil lojas de judeus e 1,6 mil sinagogas foram reduzidas a escombros. A sequência da história nós já conhecemos: a guerra, o extermínio, a máquina da morte.
Estou certo de que todos os participantes deste evento conhecem o trágico roteiro que acabei de narrar. Optei, contudo, por repeti-lo para todos nós lembrarmos que foi a supressão da democracia que abriu a avenida para o fascismo e para o nazismo. Sempre faço questão de reafirmar que a democracia é um bem do qual não podemos abrir mão nunca. E nesta ocasião quero também dizer que a democracia política, social e econômica é a nossa principal arma contra a discriminação e a intolerância. A democracia não é a consolidação do silêncio, mas sim da manifestação das múltiplas vozes reivindicando os seus direitos. O povo brasileiro me deu a honra de governar um país já democrático e tolerante. E chegando ao fim do meu segundo mandato, me orgulho de ter contribuído para o fortalecimento das instituições, para a liberdade de imprensa, para a expansão das políticas públicas a todos os setores e comunidades de nossa sociedade e, especialmente, para a ampliação da participação social.
Fico feliz quando vejo, por exemplo, os catadores de materiais recicláveis e os grandes industriais circularem pelos palácios em Brasília. E não só eles, mas os pequenos agricultores e os empresários rurais; as pessoas com deficiência, os hansenianos, os idosos, os jovens, as crianças; os empresários e trabalhadores de todas as áreas; os intelectuais, cientistas, artistas e devotos de todas as religiões.
E fico feliz de estar aqui com vocês – que também são testemunhas e participantes desse grande diálogo democrático – e celebrarmos mais uma vez a vida em um país formado por muitos povos que se relacionam em harmonia.
Minhas senhoras e meus senhores,
Como vocês sabem, o presidente Shimon Peres, o presidente Mahmoud Abbas e o presidente Ahmadinejad estiveram no Brasil recentemente. Durante esses encontros, conversamos longamente sobre a necessidade de uma paz duradoura no Oriente Médio e sobre os obstáculos que vêm impedindo alcançar esse objetivo. Mostrei ao presidente do Irã que é impossível negar o Holocausto, que 60 milhões de vidas foram perdidas na Segunda Guerra Mundial em combates, em enfrentamentos de parte a parte. Mas que os 6 milhões de judeus não foram mortos em combates, foram exterminados. E ninguém tem o direito de desconhecer o extermínio de tanta gente.
Falamos também da nossa disposição de dialogar com todos os setores envolvidos, sobre como o nosso país, com longa tradição pacifista e de respeito às diferenças, pôde contribuir nos processos que visam à resolução dos conflitos na região.
Em março próximo, terei a honra de visitar mais uma vez Israel, a Palestina e a Jordânia. E mais uma vez, em nome do povo brasileiro, levarei até lá nossa mensagem de tolerância e de paz, nossa convicção em defesa do diálogo comum. Uma mensagem que é baseada não em uma utopia, mas na realidade de uma nação onde as mais diversas comunidades convivem em harmonia.
Todos nós, governo e sociedade, podemos trabalhar para que se aproxime o dia em que israelenses e palestinos vivam em segurança em seus respectivos Estados. Um dia no qual a paz e o respeito serão os pilares de um novo Oriente Médio, próspero e com justiça social, no qual todos os conflitos que existem hoje passem a aparecer apenas nos livros de História.
A Terra Santa é uma referência não apenas para as três grandes religiões monoteístas, mas para toda Humanidade. E cabe a todos ajudar os povos que ali habitam a encontrarem o caminho que levará a um futuro melhor.
Muito obrigado, shalom.
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