Cumprimento reconhecidamente os presentes: autoridades governamentais e políticas, empresários, intelectuais, familiares, amigos, membros da comunidade judaica de Pernambuco, pessoal da imprensa, presidentes das organizações judaicas, particularmente o Presidente da Federação Israelita de Pernambuco Sr. Ivan Kelner e o Vice Presidente Sr. Denys Sjnader. Com muito respeito e consideração cumprimento os senhores diretores da Realesis,, administradores do Shopping Paço Alfândega, Sr Jose Augusto Ferreira dos Santos e Sr. Armando Saboia Filho. Com muito carinho e emoção agradeço a presença das pessoas que aqui se apresentam como testemunhas da história do czarismo e do nazismo na Europa: Senhor Moisés Lederman e sua esposa, Sra. Suzi Krautamer, Sra. Pola Berenstein, Sr. Luiz Kano. Não é fácil expressar nossos sentimentos diante de uma atmosfera tão especial criada com o empenho de Laura Costa e Andrea Machado e sua equipe de profissionais especializados.
Mas, porque devemos demonstrar os nossos sentimentos? Por razões simples. Muito menos por ser um evento sobre a cultura judaica. Muito mais, por ser uma proposta sensível dos promotores do programa para uma integração à semana em que são lembradas as vítimas do holocausto.
E para nós, esta lembrança se estende a todas as etnias e grupos sociais que são alvo da intolerância apenas por serem “diferentes”. Sobre este assunto vimos refletindo bastante sobre um conceito que está intimamente ligado as questões de intolerância. É o conceito deressentimento e suas relações com a história e com a memória.
E qual a relação entre eles?
Pensando bem, ressentimento envolve pensamentos de rancores, desejos de vinganças, fantasmas de morte. Os fatos causadores estão situados nas partes sombrias e tristes da história e se instalam nas memórias e nas lembranças das pessoas. Normalmente são provocados por conflitos nas esferas políticas e religiosas. E aí estão as relações entre ressentimento, história e memória.
O holocausto dos judeus, dos negros, dos ciganos e de todos os que não cabiam nas medidas da pretendida eugenia racial ou religiosa pregada pela Inquisição e pelo nazismo, deixaram marcas profundas na memória e nas lembranças de gerações dos perseguidos pelo Tribunal do Santo Ofício, pelos pogroms e pelo exército alemão.
Será que podemos imaginar como fica a memória e a lembrança dos descendentes dos seis milhões de judeus e outros grupos que perderam suas vidas apenas por serem “diferentes”?
Todavia, o resultado das minhas reflexões sobre este assunto nos estimula a desenvolver ações que possam transformar ressentimentos em “atitudes afirmativas”.
Não defendo a tolerância, pois ela sugere uma hierarquia na qual os “melhores toleram” os “outros”. Pressupõe uma situação de desigualdade. Ou seja, alguém se coloca como modelo, pois se julga mais civilizado, de uma cultura superior e toma alguma atitude de benevolência em relação a outro julgado menor.
Alio-me aos que defendem o combate a intolerância simplesmente oferecendo a memória-conhecimento como suporte documental para as narrativas históricas. Através do conhecimento sobre este “outro” provavelmente as fronteiras marcadas pela discriminação e intolerância perdem seus limites. As diferenças entre os grupos étnicos e sociais tornam-se permeáveis à idéia da convivência possível entre culturas. Espaços são abertos para a valorização da diversidade cultural, traço fundante da cultura brasileira.
Neste ponto, posso me referir ao evento Ao Recife o que o Recife não Conhece.
Em 2004, tive a oportunidade de abrir outra exposição que também pretendia contar uma história que os americanos não conheciam. Na ocasião lembrei uma frase de um canto sefardita em língua ladina: La vida es un pasahe. Estas palavras representam uma síntese do povo judeu: A vida como passagem, itinerário, sucessão de chegadas e de partidas. Passagens que são caminhos, pontes entre os homens e entre mundos..
Apenas falando da passagem da Península Ibérica para Pernambuco, aonde vieram para ficar. Com os holandeses criaram a Primeira Congregação Judaica das Américas.
Ergueram a Sinagoga Kahal Zur Israel. Depois, num mês de setembro do ano de 1654, 23 judeus saindo do porto do Recife, chegaram à Nova Iorque que se chamava Nova Amsterdam. Com um intervalo de três séculos e meio chegam a Pernambuco, nos primeiros anos do século XX, os judeus que fugiam da Primeira e da Segunda Guerra Mundial. Sempre pelas mesmas razões: a intolerância.
Celebramos hoje, neste evento, a recuperação de parte dos passos perdidos para reconstituição de nossa memória. Temos nos esforçado para aprofundar o olhar e descobrir as marcas da presença judaica em Pernambuco. A esse desafio nos entregamos nestes últimos 20 anos.
Por fim, agradecemos a todas as pessoas e instituições que tornaram possível este instante em que além de rememorarmos a nossa história também a compartilhamos com o público pernambucano.
Tânia Neumann Kaufman
Shopping Paço Alfândega
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Sou estudante da lingua e do povo judeu, bem como seus costumes e contribuição para a humanidade, parabens pelo blog,e Drª. Tania kaufman pela atuação junto a história de seu povo. tenho um pequeno projeto para mestrado, contribuição do povo judeu na economia, Penisula Iberica,Estados Unidos e Brasil.
ResponderExcluir