quarta-feira, 31 de março de 2010

Mordechai Anielewicz, o lendário comandante


Morashá - Edição 67 - março de 2010


Jovem herói, será lembrado para Sempre por seu legado de coragem e idealismo e por sua liderança na Revolta do Gueto de Varsóvia, a maior resistência judaica armada contra os Nazistas.

Gueto de Varsóvia, véspera de Pessach de 1943. Dentre 350 mil judeus que havia na cidade em 1939, restavam apenas cerca de 50 mil atrás dos muros do gueto. Liderados por Mordechai Anielewicz, jovens judeus escassamente armados, sem nenhuma experiência em batalha, escolheram não se curvar diante de um inimigo poderoso, escolheram morrer em liberdade, lutar até o fim e, assim, preservar sua honra e a honra de nosso povo. Seus atos e sacrifício final transformaram a imagem do judeu passivo na do jovem guerreiro. E o Levante, a primeira rebelião urbana em qualquer dos países nazistas, tornou-se símbolo universal de coragem e resistência contra o mal.

Poucas são as informações sobre a vida de Anielewicz. Ao tombar no bunker da rua Mila 18, ele tinha apenas 24 anos. Praticamente todos que o conheceram, assim como o mundo no qual viveu, desapareceram durante a Shoá. A história de sua vida, de sua coragem e de seu idealismo entrelaça-se com a dos milhares de judeus do gueto de Varsóvia.

Sua vida

O mais velho dos quatro filhos de Abraham e Cyrl Anielewicz, Mordechai nasceu em 1919, em Wyszkow. Durante a 1ª Guerra, seu pai refugiara-se com a família nessa cidade, onde se casaria com Cyrl Zeldman. Ao término do conflito, o jovem casal se muda para Varsóvia, que acabara de se tornar capital de uma Polônia independente. Grávida, Cyrl contrai tuberculose e volta durante algum tempo para Wyszkow, onde dá à luz um menino que é chamado Mordechai.

Os Anielewicz viviam em Varsóvia em uma modesta casa às margens do Rio Vístula. Em 1921, havia na cidade 310 mil judeus, mais do que um terço de seus habitantes. Centro do judaísmo polonês, Varsóvia era, também, o centro da vida religiosa, cultural e política dos judeus da Europa Oriental. A cidade era sede do Movimento Sionista, do Bund, do Agudat Israel e de inúmeros movimentos juvenis, como o Hashomer Hatzair, Dror, Akiva ou Betar.

A população judaica da Polônia era numerosa, um entre cada dez habitantes era judeu. Em seus dias iniciais, o renascimento polonês trouxera esperanças para nosso povo, mas elas logo se esvaneceram. Um anti-semitismo endêmico permeava a sociedade, e o nacionalismo polonês, intensamente católico, era imune à secularização.

O sionismo passara a fazer parte da vida de Mordechai desde a infância, quando ouvia seu pai falar sobre Theodor Herzl e a criação de um Lar Nacional em Eretz Israel. Aluno brilhante, ao terminar o primário conseguiu ser aceito num renomado colégio judeu-polonês e, aos 13 anos, filiou-se ao Betar. Filho dedicado, ajudava seus pais como podia, cuidava dos irmãos menores - Pinchas, Eva e Frida - e, para completar o orçamento doméstico, dava aulas particulares. Os Anielewicz viviam como a maioria dos judeus poloneses, lutando para conseguir viver com dignidade. Na década de 1930, a Polônia entrara num período de pobreza e desemprego em massa e o fardo mais pesado recaíra sobre a população judaica. A adoção de políticas econômicas discriminatórias resultou no empobrecimento ainda maior de suas camadas mais baixas. A situação pioraria ainda mais após 1935, pois a direita radical, nacionalista e anti-semita tomou força e os judeus passaram a sofrer violentos distúrbios, além de um boicote econômico e medidas oficiais anti-judaicas.

Mordechai cresceu sendo alvo de escárnio e violência por parte dos não-judeus, mas sempre os enfrentava. Acreditava que era preciso reagir perante os ataques anti-semitas. Ao término da escola secundária, ele deixa o Betar para se juntar ao Hashomer Hatzair, movimento sionista socialista cujo objetivo era preparar a juventude para viver em um futuro Estado judaico. Líder nato, Mordechai conquistava as pessoas a sua volta, principalmente os jovens aos quais incentivava a se unir ao movimento. Rapidamente torna-se um dos líderes da organização, preparando, entre outros, membros do Hashomer para fazerem aliá. Em 1937 fundou um novo grupo, a Kvutzá Mered, que em hebraico significa rebelião.

Em 1938 o anti-semitismo já unia na Polônia oposição e governo, e a direita advogava a expulsão em massa da população judaica. O aumento da violência contra os judeus leva lideranças comunitárias a criarem uma organização de autodefesa. Anielewicz e seus companheiros do Hashomer costumavam agir com firmeza contra qualquer demonstração de anti-semitismo. Em 1939, ele leva membros do Hashomer para Vilna, onde aguardariam o transporte para a então Palestina. Ele, no entanto, retorna para Varsóvia com sua noiva, Mira Fuchrer. Na véspera da 2ª Guerra Mundial, a população judaica da cidade era de 375 mil pessoas.

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