quarta-feira, 31 de março de 2010

Mordechai Anielewicz, o lendário comandante


Morashá - Edição 67 - março de 2010


Jovem herói, será lembrado para Sempre por seu legado de coragem e idealismo e por sua liderança na Revolta do Gueto de Varsóvia, a maior resistência judaica armada contra os Nazistas.

Gueto de Varsóvia, véspera de Pessach de 1943. Dentre 350 mil judeus que havia na cidade em 1939, restavam apenas cerca de 50 mil atrás dos muros do gueto. Liderados por Mordechai Anielewicz, jovens judeus escassamente armados, sem nenhuma experiência em batalha, escolheram não se curvar diante de um inimigo poderoso, escolheram morrer em liberdade, lutar até o fim e, assim, preservar sua honra e a honra de nosso povo. Seus atos e sacrifício final transformaram a imagem do judeu passivo na do jovem guerreiro. E o Levante, a primeira rebelião urbana em qualquer dos países nazistas, tornou-se símbolo universal de coragem e resistência contra o mal.

Poucas são as informações sobre a vida de Anielewicz. Ao tombar no bunker da rua Mila 18, ele tinha apenas 24 anos. Praticamente todos que o conheceram, assim como o mundo no qual viveu, desapareceram durante a Shoá. A história de sua vida, de sua coragem e de seu idealismo entrelaça-se com a dos milhares de judeus do gueto de Varsóvia.

Sua vida

O mais velho dos quatro filhos de Abraham e Cyrl Anielewicz, Mordechai nasceu em 1919, em Wyszkow. Durante a 1ª Guerra, seu pai refugiara-se com a família nessa cidade, onde se casaria com Cyrl Zeldman. Ao término do conflito, o jovem casal se muda para Varsóvia, que acabara de se tornar capital de uma Polônia independente. Grávida, Cyrl contrai tuberculose e volta durante algum tempo para Wyszkow, onde dá à luz um menino que é chamado Mordechai.

Os Anielewicz viviam em Varsóvia em uma modesta casa às margens do Rio Vístula. Em 1921, havia na cidade 310 mil judeus, mais do que um terço de seus habitantes. Centro do judaísmo polonês, Varsóvia era, também, o centro da vida religiosa, cultural e política dos judeus da Europa Oriental. A cidade era sede do Movimento Sionista, do Bund, do Agudat Israel e de inúmeros movimentos juvenis, como o Hashomer Hatzair, Dror, Akiva ou Betar.

A população judaica da Polônia era numerosa, um entre cada dez habitantes era judeu. Em seus dias iniciais, o renascimento polonês trouxera esperanças para nosso povo, mas elas logo se esvaneceram. Um anti-semitismo endêmico permeava a sociedade, e o nacionalismo polonês, intensamente católico, era imune à secularização.

O sionismo passara a fazer parte da vida de Mordechai desde a infância, quando ouvia seu pai falar sobre Theodor Herzl e a criação de um Lar Nacional em Eretz Israel. Aluno brilhante, ao terminar o primário conseguiu ser aceito num renomado colégio judeu-polonês e, aos 13 anos, filiou-se ao Betar. Filho dedicado, ajudava seus pais como podia, cuidava dos irmãos menores - Pinchas, Eva e Frida - e, para completar o orçamento doméstico, dava aulas particulares. Os Anielewicz viviam como a maioria dos judeus poloneses, lutando para conseguir viver com dignidade. Na década de 1930, a Polônia entrara num período de pobreza e desemprego em massa e o fardo mais pesado recaíra sobre a população judaica. A adoção de políticas econômicas discriminatórias resultou no empobrecimento ainda maior de suas camadas mais baixas. A situação pioraria ainda mais após 1935, pois a direita radical, nacionalista e anti-semita tomou força e os judeus passaram a sofrer violentos distúrbios, além de um boicote econômico e medidas oficiais anti-judaicas.

Mordechai cresceu sendo alvo de escárnio e violência por parte dos não-judeus, mas sempre os enfrentava. Acreditava que era preciso reagir perante os ataques anti-semitas. Ao término da escola secundária, ele deixa o Betar para se juntar ao Hashomer Hatzair, movimento sionista socialista cujo objetivo era preparar a juventude para viver em um futuro Estado judaico. Líder nato, Mordechai conquistava as pessoas a sua volta, principalmente os jovens aos quais incentivava a se unir ao movimento. Rapidamente torna-se um dos líderes da organização, preparando, entre outros, membros do Hashomer para fazerem aliá. Em 1937 fundou um novo grupo, a Kvutzá Mered, que em hebraico significa rebelião.

Em 1938 o anti-semitismo já unia na Polônia oposição e governo, e a direita advogava a expulsão em massa da população judaica. O aumento da violência contra os judeus leva lideranças comunitárias a criarem uma organização de autodefesa. Anielewicz e seus companheiros do Hashomer costumavam agir com firmeza contra qualquer demonstração de anti-semitismo. Em 1939, ele leva membros do Hashomer para Vilna, onde aguardariam o transporte para a então Palestina. Ele, no entanto, retorna para Varsóvia com sua noiva, Mira Fuchrer. Na véspera da 2ª Guerra Mundial, a população judaica da cidade era de 375 mil pessoas.

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Kahal Zur Israel, uma lição de história

por Joel Rechtman

Morashá - Edição 67 - março de 2010

Este ano, os organizadores do evento que homenageia as vítimas do Holocausto elegeram a Sinagoga de Recife como palco desta cerimônia, que contou com a presença do Presidente Luis Inácio Lula da Silva.

A primeira em funcionamento em terras do Novo Mundo, a Sinagoga Kahal Kadosh Zur Israel foi construída em 1637, durante o período no qual o Recife era governado pelo holandês João Maurício de Nassau e os judeus tinham liberdade religiosa. A comunidade judaica de Recife era constituída em grande parte por membros da Nação Portuguesa, que chegaram ao Brasil vindos da Holanda juntamente com a Missão Holandesa, entre 1630 e 1654. Rapidamente, incorporaram-se à elite local como comerciantes, financiadores dos donos de engenhos de açúcar e mercadores. O grande rabino Isaac Aboab da Fonseca foi trazido de Amsterdam para liderar a comunidade, Kahal Kadosh Zur Israel, o Rochedo de Israel. Com a reconquista da região por Portugal, muitos judeus fugiram de Recife com medo da Inquisição. Entre outros, 23 dos nossos escaparam no navio Valk, que saiu do porto de Recife em julho de 1654, a caminho da Holanda, mas o destino os levou a aportar em novas paragens, a que deram o nome de Nova Amsterdã, hoje Nova York.

Assim que os participantes do evento chegaram a Recife se dirigiram imediatamente ao centro antigo da cidade, à Rua dos Judeus, onde fica a sinagoga. A curiosidade era grande. Cercado de casas antigas, estava o edifício, totalmente restaurado pela Fundação Safra. Fomos recebidos por Tânia Kaufman, historiadora, responsável pelo Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco, co-organizadora do evento, que nos acompanhou na visita à sinagoga, exposição e ao Arquivo Histórico. No último andar, a sensação foi de entrar no túnel do tempo. Lá fica o recinto da sinagoga, primorosamente restaurada de acordo com o estilo arquitetônico da época de sua fundação. Parecia que a qualquer momento um judeu do século 17 sentaria ao meu lado para as preces matinais. O evento constava de duas partes: uma cerimônia religiosa na Sinagoga, com capacidade para 140 pessoas, e um ato público em um palco erguido na rua, que receberia as autoridades presentes para discursar ao grande público.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido pelos presidentes da Conib, Claudio Lottenberg, da Federação Israelita de Pernambuco, Ivan Kelner, do Congresso Judaico Latino-Americano, Jack Terpins, e da Congregação Sefardi Paulista, Joseph Safra. O Presidente estava acompanhado de diversas autoridades, entre as quais a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef. Presentes, também, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos e seu vice João Lyra Neto; o governador da Bahia, Jacques Wagner; e o prefeito de Recife, João da Costa Bezerra Filho. Compareceram também parlamentares de diversos Estados e o arcebispo de Recife e Olinda, Dom Fernando Saburido. Do plano diplomático, estiveram o embaixador de Israel, Giora Becher, e a encarregada de negócios e ministra-conselheira da embaixada dos EUA, Lisa Kubiske, entre outros.

A delegação da Conib foi composta por Fernando Lottenberg, Octavio Aronis, Henry Chmelnitsky, Jaime Spitzcovsky, Karen Didio Sasson. Estavam também presentes Lea Lozinsky, presidente da Fierj; Vivienne Landhwer, presidente da Associação Israelita de Brasília; Jose Frenkiel, presidente da Federação Israelita do Ceará; Pablo Schejtman, vice-presidente da Federação Israelita do Ceará; Mauricio Szporer, presidente da Federação Israelita da Bahia; e Silvio Musman, presidente da Federação Israelita de Minas Gerais.

O mestre de cerimônias e vice-presidente da Federação Judaica de Pernambuco, Denys Sznyder, iniciou a homenagem às vítimas do Holocausto, convidando o rabino Alex Mizrahi para explicar aos presentes o significado da cerimônia. O chazan Inaldo Schelb foi convidado para recitar os salmos 23 e 24. A seguir, os rabinos Yossi Schildkraut, do Beit Chabad Itaim, e Michel Schlesinger, da Congregação Israelita Paulista, recitaram o kadish, a reza dos enlutados em memória dos seis milhões de vítimas do Holocausto.

O rabino David Y. Weitman, da Congregação Sefardi Paulista, fez um breve relato histórico da fundação da Kahal Zur Israel. A tradicional cerimônia das seis velas teve início com Ben Abraham, sobrevivente do Holocausto, acompanhado por um aluno da Escola Judaica Moises Schvartz, de Recife, e um chanich do movimento juvenil Habonim Dror. O governador Jacques Wagner e o deputado federal pelo Rio de Janeiro, Marcelo Itagiba, acenderam a segunda vela. A Joseph Safra coube acender a terceira. A quarta foi acesa pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos e pelo prefeito de Recife, João da Costa Bezerra Filho. Os rabinos presentes, em conjunto, acenderam a quinta vela e o presidente Lula encerrou a homenagem acendendo a sexta e última vela.

A segunda parte da cerimônia foi realizada na área externa da sinagoga. O presidente Lula, que pela quinta vez consecutiva participava desta cerimônia, quebrou o protocolo e foi em direção aos sobreviventes homenageados, Ben Abraham e sua esposa, e Póla Bernstein.

Cerca de 600 pessoas se acomodaram em cadeiras colocadas ao longo da Rua do Bom Jesus, como foi renomeada a antiga Rua dos Judeus, para ouvir os discursos dos diversos dirigentes comunitários e autoridades.

O discurso de Claudio Lottenberg era bastante esperado, pois nos últimos meses, como o principal representante da comunidade judaica brasileira, o presidente da Conib se posicionou de maneira firme em relação à visita do presidente do Irã ao Brasil. Estávamos todos em Recife para homenagear aqueles que foram exterminados durante o Holocausto, evento histórico repetidamente negado por esse mandatário. Lottenberg lembrou que a homenagem à memória de seis milhões de seres humanos, brutalmente assassinados pelo nazismo foi idéia de um ilustre filho da terra de Pernambuco, o presidente Lula. Afirmou que a homenagem prestada à memória das vítimas incluía não apenas os judeus mas todos aqueles que os nazistas exterminaram. Disse, também, que todos nós temos o dever de proteger sua memória e, acima de tudo, manter acesa a chama da luta pela liberdade, não nos abstendo de denunciar todos os regimes intolerantes, quaisquer que sejam.

Recordou a tragédia do Haiti e a solidariedade da comunidade judaica que, por intermédio do Hospital Israelita Albert Einstein, enviou uma equipe médica para atender os necessitados. O presidente da Conib disse que confiava no prestígio internacional do Presidente Lula, que poderia tornar-se um valioso instrumento para que o Oriente Médio fosse arrancado do fanatismo para ser recolocado no caminho da paz e do desenvolvimento. Após ressaltar que o relacionamento pessoal entre eles datava de 1993, quando das Macabíadas Mundiais, disse: "Assim, minha atual condição de presidente da Conib impõe que eu zele pelos interesses da comunidade judaica do Brasil, seja o porta-voz das suas preocupações e o interlocutor junto às autoridades constituídas, entre elas - e principalmente - o presidente da República. E o presidente Lula, devo confessar, tem sido, antes e durante os anos de seus mandatos, um ouvinte atento e um negociador paciente de quem se pode divergir no acessório, mas com quem o diálogo leva à conciliação no fundamental". Lottenberg entregou ao presidente um livreto que resume esse relacionamento. "Ele foi preparado com a ajuda de um amigo comum, o jornalista Bernardo Lerer. Um documento é um compromisso. E um compromisso é uma responsabilidade. Jamais esta comunidade e jamais este seu presidente, independentemente do que possa vir a acontecer, abrirão mão desta amizade. Amigo Presidente Lula, tenho certeza de que continuamos juntos, como sempre", finalizou o presidente da Conib.

O Presidente Lula fez um longo discurso. Começou mencionando que a amizade de dois povos tão diferentes já se materializava no século 17, naquela sinagoga, desejando que todos os brasileiros judeus pudessem conhecer aquele importante local, que foi ponto de partida para os que partiram para fundar a cidade de Nova York.

Prosseguiu fazendo uma análise histórica sobre os acontecimentos que culminaram no Holocausto. Mencionou diversas medidas nazistas contra o povo judeu e como estas medidas feriram a democracia. Lembrou as longas conversas que manteve com Shimon Peres e Mahmoud Abbas, em suas recentes visitas ao Brasil, em que trataram da necessidade de paz duradoura no Oriente Médio e os obstáculos que vêm impedindo alcançá-la. Finalmente, confidenciou a todos as palavras dirigidas a Mahmoud Ahmadinejad por ocasião de sua visita ao Brasil: "Mostrei ao presidente do Irã que é impossível negar o Holocausto, que 60 milhões de vidas foram perdidas na 2ª Guerra Mundial em combates, em enfrentamentos de parte à parte. Mas que os seis milhões de judeus não foram mortos em combates, foram exterminados. E ninguém tem o direito de desconhecer o extermínio de tanta gente".

Ouvindo as palavras dos dirigentes comunitários e de nossos mandatários lembramos as sábias palavras de nossos rabinos e líderes espirituais de que nossos jovens devem aprender com nossa história, com a Torá e com nossas festas: Purim que festejamos recentemente e Pessach que, brevemente, nos reunirá em volta da mesa do Seder. Somente assim, poderemos evitar que tragédias como o Holocausto voltem a ocorrer.

domingo, 28 de março de 2010

O Tempo ... Em nossas mãos?

Rico ou pobre, velho ou jovem, do sexo masculino ou feminino, todos nós possuímos a mesma quantia de uma coisa – tempo. Como nós o usamos determinará em grande parte os resultados que obteremos ao longo de nossas vidas, como também o grau de refinamento espiritual que alcançaremos.

Imagine que existe um banco que deposite R$ 86.400,00 em sua conta a cada manhã. Mas tem uma “pegadinha” – ele não leva nenhum saldo de um dia para outro. Então você perde todo Real que não tenha gasto.

O que você faria? Você gastaria cada centavo, claro!

Mas cada um de nós tem exatamente um banco assim. Seu nome é tempo. Toda manhã ele nos credita com 86.400 segundos. Todas as noites ele contabiliza, como perdido, tudo o que você não tenha investido com um bom propósito. Não leva nenhum saldo; não permite saque a descoberto. Todo dia ele abre uma nova conta para nós. Toda noite ele descarta as sobras do dia. Se falharmos em usar o depósito do dia, a perda é nossa. Não tem volta. Não podemos sacar pelo dia de amanhã. Precisamos viver no presente do depósito de hoje. Precisamos investi-lo de forma a alcançar o máximo de saúde, felicidade e sucesso. O relógio está correndo. Será que estamos usando o máximo de tempo que nos foi dado?

O tempo importa tanto assim?

Para sabermos se o tempo tem pouca ou grande importância, consideremos o seguinte:

Para compreender o valor de um ano, pergunte a um estudante que fracassou em se graduar.

Para compreender o valor de um mês, pergunte a uma mãe que tenha dado a luz a bebê prematuro.

Para compreender o valor de uma semana, pergunte a um editor de uma revista semanal.

Para compreender o valor de um dia, pergunte a um trabalhador que vive de diárias e tenha filhos para alimentar.

Para compreender o valor de uma hora, pergunte aos namorados que estão esperando para se encontrar.

Para compreender o valor de um minuto, pergunte a pessoa que perdeu a condução.

Para compreender o valor de um segundo, pergunte a pessoa que acabou de evitar um acidente.

Para compreender o valor de milésimo de segundo, pergunte ao atleta que ganhou a medalha de prata nas Olimpíadas.

O autor anônimo destas palavras pode nos ajudar a compreender o quanto o tempo é importante na busca por nosso aprimoramento em todos aspectos de nossa vida. Afinal este é o nosso propósito de viver. Nos refinarmos como pessoas, como estudantes, como amigos, como pais, como amantes, como patrões, como empregados, como governantes e como tudo mais que nos dispusermos a realizar.

Santa Semana

Por: Jane Bichmacher de Glasman *

Nada é por acaso

Nesta semana são comemoradas a Páscoa Judaica e a Cristã. Não é mera coincidência. Durante muito tempo, no início do Cristianismo, as festas bíblicas eram comemoradas na mesma data, segundo o calendário judaico que é lunissolar. A posterior distinção de calendários não impede que as datas das comemorações voltem a coincidir. A maioria das pessoas sabe que Pessach é a Páscoa Judaica, embora, na verdade, a Páscoa seja o Pessach Cristão.

Liberdade e Libertação

O nome Pessach deriva do hebraico passach que significa saltar, passar por cima; comemora a libertação dos judeus do cativeiro no Egito e é a celebração da liberdade, a história da mobilização do povo para a conquista da liberdade.

Para o povo judeu, recordar a saída da escravidão significa ultrapassar os limites que impedem a realização de seu pleno potencial. Em hebraico, Egito é Mitzraim, que significa estreitezas, limites, angústias, aflições. O “Egito” de uma pessoa pode ser seu egoísmo, desejos primitivos, vícios. Pessach é uma oportunidade de transcender as limitações e realizar o infinito potencial espiritual em cada aspecto da vida, ultrapassando as aflições que estreitam nossos caminhos.

A comemoração de Pessach não foi sempre a mesma. Mudou com o passar dos tempos, mas seu cerne é a liberdade. Originalmente, as comemorações de Pessach eram uma espécie de celebração da primavera, uma festa agrícola, à qual se juntaram as comemorações do Êxodo. “Observa o mês da primavera e guarde o Pessach do Senhor teu Deus, pois no mês da primavera o Senhor teu Deus te tirou do Egito à noite” (Deuteronômio 16:1)

A festa de Pessach dura oito dias. Os dois primeiros e os dois são festas solenes; os intermediários são semifestas. Desde o século I, após a expulsão dos judeus da sua terra, a comemoração de Pessach passou a ser decisiva para que o povo não desaparecesse e continuasse a cultivar a tradição de Pessach como luta pela liberdade (o que justifica, por toda a sua carga simbólica, ter sido mantida pelos criptojudeus através dos séculos, por exemplo).

Seder e Ceia

Em geral, associamos Pessach a uma ceia, assim se referindo ao Seder. Porém Seder significa ordem, em hebraico, relacionando-se à ritualística da noite, que compreende 14 itens a serem seguidos numa ordem específica, dentre os quais, o 10º corresponde à refeição propriamente dita. Embora o Seder de Pessach gire em torno de alimentos, eles têm um caráter mais simbólico que comestível. A principal bandeja que se coloca à mesa, a Keará, não é para ser consumida - sua função é pedagógica. Quando Rabi Gamaliel instituiu o Seder, ele estava preocupado em manter viva a esperança do povo, lembrando que isto foi feito no período da dominação romana.

O Seder é uma representação de um relato histórico, ao vivo, com um narrador, em geral o pai da família, o que se repete todos os anos em cada lar judeu, nas duas primeiras noites. E na vida moderna urbana, quando os horários e ocupações não combinam, o Seder representa um novo papel. Pelo menos durante uma semana de reunião, a família repensa grandes temas pelos quais vale a pena lutar, como liberdade e esperança.

Na primeira noite do Seder, há sempre alguns convidados. É dever convidar aqueles que estão tristes, sós, sem família, para que possam celebrar junto a Festa da Liberdade.

Seder e Eucaristia

A última Ceia de Jesus foi a celebração de um Seder de Pessach. No Catolicismo, dela são mantidos elementos em comum até hoje, desde objetos ritualísticos, com outros significados simbólicos e religiosos, presentes em toda missa. O pão, a hóstia, é a matzá também parte do ofertório. O cálice de vinho, sendo apenas um, vem dos quatro copos tomados durante o Seder e, no judaísmo, o cálice do Kidush (santificação).

Desacertos da História

Lembremos que no terceiro copo de vinho, abrem-se as portas para entrar o profeta Elias, que segundo a tradição visita as casas judias na noite do Seder e que anunciará a vinda do Messias.

Deve-se deixar a porta entreaberta para facilitar a entrada do profeta Elias, mas sendo ele tão poderoso a porta fechada seria um problema? O costume tem também outra origem:

Infelizmente, eventos associados a Pessach, foram responsáveis pela morte de milhares de judeus. Marranos ou criptojudeus (cristãos novos, convertidos à força, que mantinham seu judaísmo em segredo) eram particularmente vigiados e presos em Pessach pela Inquisição, como hereges. A acusação de "assassinato ritual" levou ao massacre e expulsão de diversas comunidades européias: os judeus eram acusados de matarem criancinhas cristãs para fazer matzá com seu sangue (?!)- um absurdo para quem tenha alguma noção de Kashrut, leis dietéticas e de pureza judaicas, que proíbem terminantemente ingestão de sangue.

A porta ficava aberta porque as famílias judias queriam que os vizinhos cristãos pudessem ver a qualquer momento o que os judeus estavam fazendo. Essa calúnia passou à história com o nome de “assassínio ritual” ou libelo de sangue.

Mas nem sempre se podia deixar a porta aberta, como nos tempos da Inquisição, quando o Pessach era celebrado na clandestinidade.
Sem falar na acusação milenar de "judeus deicidas", assassinos de Jesus, e a malhação de Judas, prática tão conhecida no Brasil... Ou a super faxina anual de Pessach, que aliada a outras práticas judaicas de caráter higiênico (como banhos, trocas de roupas, cuidados com os mortos, doentes, etc.) pouparam judeus de morrer tanto quanto os demais, em epidemias como a Peste Negra- e que por isso, foram acusados de causá-las, determinando sua perseguição e massacre...

Embora nas últimas décadas a Igreja Católica venha se empenhando em reconhecer erros do passado e pedir perdão por eles, determinados preconceitos são muito difíceis de serem desarraigados da cultura popular. Em português, eles determinaram conotações vocabulares negativas e pejorativas, como judiar, judiaria, judiação, e a associação de judeu a usurário no anedotário. Como fato histórico, os judeus, originalmente pastores, agricultores, artesãos e profissionais liberais, foram forçados a se dedicar ao comércio devido a restrições a eles impostas na Idade Média, como possuir terras, etc..

Páscoa com Z

Pessach, Passchah ou Páscoa, o essencial é que nós, da raça humana, aprendamos a nos libertar de nossos preconceitos, através do esclarecimento e da prática da tolerância e não discriminação. E que possamos caminhar, assim, para uma verdadeira PAZcoa, PAZcomAmor!

* Doutora em Língua Hebraica, Literaturas e Cultura Judaica, Professora Adjunta, Fundadora e ex-Diretora do Programa de Estudos Judaicos e do Setor de Hebraico –UERJ, escritora.

Discurso do Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu na Conferência da AIPAC

O futuro do Estado judeu nunca pode depender da boa vontade até mesmo do maior dos homens. Israel deve sempre reservar-se o direito de se defender. (22 de março de 2010)

Membros da Administração Obama, Senadores, Membros do Congresso, ministro da Defesa Ehud Barak, ministro Uzi Landau , embaixador Michael Oren, Howard Kohr, Victor David, Lee Rosenberg Líderes da AIPAC, Senhoras e Senhores:

Quando o mundo enfrenta desafios monumentais, sei que Israel e Estados Unidos vão enfrentá-los juntos. Estamos juntos porque somos animados pelos mesmos ideais e inspirados pelo mesmo sonho — o sonho de alcançar a segurança, a prosperidade e a paz.

Este sonho parecia impossível para muitos judeus no século passado.

Neste mês, meu pai comemorou seu centésimo aniversário. Quando ele nasceu, os czares governavam a Rússia, o Império Britânico abarcava todo o mundo e os otomanos governavam o Oriente Médio. Durante sua vida, todos esses impérios desmoronaram, outros floresceram e sucumbiram, e o destino judaico passou do desespero para uma nova esperança — o renascimento do Estado judeu. Pela primeira vez em dois mil anos, o povo judeu soberano podia defender-se contra ataques.

Antes disso, fomos submetidos à incessante barbárie: A carnificina da Idade Média, a expulsão dos judeus da Inglaterra, Espanha e Portugal, os massacres sanguinários dos judeus da Ucrânia, os pogroms na Rússia, que culminaram com o maior dos males — o Holocausto.

A fundação de Israel não interrompeu os ataques contra os judeus. Limitou-se a dar aos judeus o poder deles próprios se defenderem contra aqueles ataques.

Meus amigos,

Quero dizer a vocês sobre o dia em que compreendi a profundidade dessa transformação. Foi o dia em que conheci Shlomit Vilmosh, há mais de 40 anos atrás. Eu servi com seu filho, Haim, na mesma unidade de elite do exército. Durante uma batalha em 1969, Haim foi morto por uma rajada de metralhadora.

Em seu funeral, descobri que Haim nascera pouco depois que sua mãe e seu pai foram libertados dos campos de morte da Europa. Se Haim tivesse nascido dois anos antes aquele corajoso jovem teria sido atirado aos fornos como um milhão de outras crianças judias. Shlomit, a mãe de Haim, me disse então que estava bastante angustiada, mas também muito orgulhosa. Pelo menos, ela disse, meu filho caiu vestindo o uniforme de um soldado judeu defendendo o Estado judeu.

Uma e outra vez, o exército israelense foi obrigado a repelir os ataques de poderosos inimigos determinados a nos destruir. Quando o Egito e a Jordânia reconheceram que não poderiam nos derrotar em batalha, adotaram o caminho da paz.

Ainda há aqueles que continuam a agressão contra o Estado judeu e abertamente pedem a nossa destruição. Eles procuram alcançar este objetivo através do terrorismo, dos ataques de mísseis e, mais recentemente, através do desenvolvimento de armas atômicas.

A reunião do povo judeu em Israel não dissuadiu esses fanáticos. Na verdade, isso só tem aguçado seu apetite. Governantes do Irã dizem que "Israel é país de uma só bomba". O chefe do Hezbolá diz: "Se todos os judeus se reúnem em Israel, isso irá poupar-nos do trabalho de persegui-los em todo o mundo".

Meus amigos,

Estes são fatos desagradáveis, mas são os fatos.

A maior ameaça para qualquer organismo vivo ou nação não é a de reconhecer o perigo a tempo. Setenta e cinco anos atrás, muitos líderes ao redor do mundo puseram suas cabeças na areia. Incontáveis milhões de pessoas morreram na guerra que se seguiu. Finalmente, dois dos maiores líderes da história ajudaram a maré a mudar. Franklin Delano Roosevelt e Winston Churchill ajudaram a salvar o mundo. Mas era tarde demais para salvar seis milhões do meu próprio povo.

O futuro do Estado judeu nunca pode depender da boa vontade até mesmo do maior dos homens. Israel deve sempre reservar-se o direito de se defender.

Hoje, uma ameaça sem precedentes para a humanidade é iminente. Um regime radical iraniano com armas nucleares poderia trazer um fim à era da paz nuclear que o mundo tem desfrutado nos últimos 65 anos. Esse regime poderia fornecer armas nucleares a terroristas e poderia mesmo ser tentado a usá-las. Nosso mundo nunca mais seria o mesmo. A descarada corrida do Irã para desenvolver armas nucleares é, em primeiro lugar, uma ameaça para Israel, mas também é uma grave ameaça para a região e para o mundo.

Israel espera que a comunidade internacional aja rápida e decisivamente para impedir esse perigo. Mas sempre nos reservamos o direito da autodefesa.

Temos também de nos defender contra mentiras e difamações. Ao longo da história, as calúnias contra o povo judeu sempre precederam as agressões físicas contra nós e foram usadas para justificar esses ataques. Os judeus eram chamados de envenenadores da humanidade, fomentadores da instabilidade e fonte de todo o mal sob o sol.

Infelizmente, esses ataques caluniosos contra o povo judeu também não terminaram com a criação de Israel. Por um tempo, o antissemitismo ostensivo foi colocado em xeque pela vergonha e o choque do Holocausto. Mas só por um tempo. Nas últimas décadas, o ódio aos judeus ressurgiu com força crescente, mas com uma distorção insidiosa. Não é apenas dirigida ao povo judeu, mas cada vez mais ao Estado judeu. Na sua forma mais perniciosa, alega que, se Israel não existisse, muitos dos problemas do mundo acabariam.

Meus amigos,

Será que isso significa que Israel está acima de qualquer crítica? Claro que não. Israel, como qualquer democracia, tem suas imperfeições, mas nós nos esforçamos para corrigi-las através do debate aberto e escrutínio. Israel tem tribunais independentes, Estado de Direito, imprensa livre e um vigoroso debate parlamentar — acreditem, é vigoroso.

Eu sei que membros do Congresso se referem um ao outro, como “o meu ilustre colega de Wisconsin ou o senador da Califórnia”. Em Israel, os membros do Knesset não se referem assim aos seus ilustres colegas de Kiryat Shmona ou de Beer Sheva. Dizemos: “Bem, você não quer saber o que falamos”. Em Israel, a autocrítica é um modo de vida, e aceitamos que a crítica faz parte da condução dos assuntos internacionais.

Mas Israel deve ser julgado pelos mesmos padrões aplicados a todas as nações, e as alegações contra Israel devem ser baseados em fatos. A alegação pela qual se tenta descrever os judeus como colonizadores estrangeiros na sua própria pátria é uma das grandes mentiras dos tempos modernos.

Em meu escritório tenho um anel com sinete, que me foi emprestado pelo Departamento de Antiguidades de Israel. O anel foi encontrado junto ao Muro Ocidental, mas remonta há cerca de 2.800 anos atrás, duzentos anos depois que o rei Davi transformou Jerusalém em nossa capital. O anel é um selo de um funcionário judeu, e inscrito em hebraico está o seu nome: Netanyahu. Netanyahu Ben-Yoash. Esse é meu sobrenome. Meu primeiro nome, Benjamin, remonta 1.000 anos antes de Benjamin, filho de Jacob. Um dos irmãos de Benjamin era chamado Shimon, que também acontece de ser o primeiro nome do meu bom amigo, Shimon Peres, o presidente de Israel. Cerca de 4.000 anos atrás, Benjamin, Shimon e seus dez irmãos vagavam pelas montanhas da Judéia.

Senhoras e Senhores,

A ligação entre o povo judeu e a terra de Israel não pode ser negada. A ligação entre o povo judeu e Jerusalém não pode ser negada. O povo judeu esteve construindo Jerusalém 3.000 anos atrás e o povo judeu constrói Jerusalém hoje.

Jerusalém não é um assentamento. É a nossa capital.

Em Jerusalém, meu governo tem mantido as políticas de todos os governos israelenses desde 1967, incluindo aqueles liderados por Golda Meir, Menachem Begin e Yitzhak Rabin. Hoje, quase um quarto de um milhão de judeus, quase a metade da população judaica da cidade, vive em bairros que estão mais além das linhas de 1949. Todos estes bairros estão dentro de uma distância de cinco minutos de carro da Knesset. Eles são parte integrante e inseparável da Jerusalém moderna. Todo mundo sabe que esses bairros serão parte indivisível de Israel em qualquer acordo de paz. Portanto, construir neles, de forma alguma exclui a possibilidade de uma solução de dois Estados.

Nada é mais raro no Oriente Médio do que a tolerância às crenças dos outros. É apenas sob soberania israelense, em Jerusalém, que a liberdade religiosa para todas as crenças tem sido garantida. Enquanto prezamos nossa pátria, também reconhecemos que os palestinos vivem lá igualmente. Nós não queremos dominá-los. Nós não queremos governá-los. Nós os queremos como vizinhos, vivendo em segurança, dignidade e paz. No entanto, Israel é injustamente acusado de não querer fazer a paz com os palestinos. Nada poderia estar mais longe da verdade.

Meu governo deu provas do seu compromisso com a paz em palavras e atos. Desde o primeiro dia pedimos à Autoridade Palestina que inicie as negociações de paz sem demora. Eu faço esse mesmo pedido hoje. Presidente Abbas, venha negociar a paz. Líderes que realmente querem a paz devem sentar-se frente a frente.

Naturalmente que os Estados Unidos podem ajudar as partes a resolverem seus problemas, mas não podem resolver os problemas para as partes. A paz não pode ser imposta de fora. Ela só pode vir através de negociações diretas nas quais estamos desenvolvendo confiança mútua.

No ano passado, falei de uma visão de paz na qual um Estado palestino desmilitarizado reconhece o Estado judeu. Assim como os palestinos esperam que Israel reconheça um Estado palestino, nós esperamos que os palestinos reconhecessem o Estado judeu.

Meu governo retirou centenas de bloqueios, barreiras e postos para facilitar o movimento dos palestinos. Como resultado, ajudamos a impulsionar um boom fantástico na economia palestina (cafeterias, restaurantes, empresas, e até mesmo cinemas multiplex). E anunciamos uma moratória sem precedentes nas novas construções israelenses na Judéia e na Samária.

Isto é o que meu governo fez pela paz. O que tem feito a Autoridade Palestina pela paz? Bem, eles só têm colocado pré-condições para as negociações de paz, movem uma implacável campanha internacional para minar a legitimidade de Israel, e promoveram o notório Relatório Goldstone, que falsamente acusa Israel de crimes de guerra. Na verdade, eles estão fazendo bem agora no âmbito da ONU o que grotescamente fizeram no Conselho dos Direitos Humanos da ONU.

Quero agradecer ao presidente Obama e ao Congresso dos Estados Unidos por seus esforços em frustrar essa calúnia, e peço pelo seu contínuo apoio.

De forma lamentável, a Autoridade Palestina também continua o incitamento contra Israel. Alguns dias atrás, uma praça pública nas imediações de Ramallah recebeu o nome de uma terrorista que matou 37 civis israelenses, incluindo 13 crianças. A Autoridade Palestina nada fez para impedir isso.

Senhoras e Senhores,

A paz exige reciprocidade. Não pode ser uma rua de mão única, na qual só Israel faz concessões. Israel está pronto a assumir compromissos necessários para a paz. Mas esperamos que os palestinos comprometam-se também. Mas uma coisa que nunca vai se comprometer é a nossa segurança.

É difícil explicar a situação da segurança de Israel para alguém que vive em um país com 500 vezes o tamanho de Israel. Mas imaginem os Estados Unidos inteiros comprimidos no tamanho de Nova Jersey. Em seguida, ponha na fronteira norte de Nova Jersey um representante terrorista do Irã chamado Hezbolá, que dispara 6.000 foguetes contra esse pequeno Estado. Imaginem então que este agente terrorista acumulou mais de 60.000 mísseis para lançar sobre você. Espere. Eu não terminei ainda. Agora, imaginem na fronteira sul de Nova Jersey outro agente terrorista iraniano chamado Hamas. Ele também lançou 6.000 foguetes contra o seu território, enquanto contrabandeia armas ainda mais letais ao seu território. Vocês não acham que se sentiriam um pouco mais vulneráv eis? Vocês acham que poderiam esperar alguma compreensão da comunidade internacional quando se defenderem?

Um acordo de paz com os palestinos devem incluir medidas de segurança eficazes na região. Israel precisa se certificar de que o que aconteceu no Líbano e em Gaza não volte a acontecer na Cisjordânia.

O principal problema da segurança de Israel com o Líbano não é sua fronteira com o Líbano. É a fronteira do Líbano com a Síria, através da qual o Irã e a Síria contrabandeiam dezenas de milhares de armas ao Hezbolá.

O principal problema da segurança de Israel com Gaza não é sua fronteira com Gaza. É a fronteira de Gaza com o Egito, na qual cerca de 1.000 túneis foram cavados para contrabandear armas. A experiência tem demonstrado que apenas a presença israelense no local pode impedir o contrabando de armas. É por isso que um acordo de paz com os palestinos deve incluir uma presença israelense na fronteira oriental de um futuro Estado palestino.

Se a paz com os palestinos comprovar sua durabilidade ao longo do tempo, poderemos rever os acordos de segurança. Estamos dispostos a assumir riscos para a paz, mas não seremos irresponsáveis com a vida da nossa população e a vida do primeiro e único Estado judeu.

Senhoras e Senhores,

O povo de Israel quer um futuro no qual nossos filhos já não experimentem os horrores da guerra. Queremos um futuro no qual Israel realize todo o seu potencial como um centro global de tecnologia, ancorado nos seus valores e viva em paz com todos os seus vizinhos.

Eu pressinto um Israel que pode dedicar ainda mais os seus talentos criativos e científicos para ajudar a resolver alguns dos grandes desafios da atualidade, antes de tudo, encontrar um substituto limpo e acessível (Nota do tradutor: mais barato) para a gasolina. E quando encontrarmos essa alternativa, vamos parar de transferir centenas de bilhões de dólares para regimes radicais que apóiam o terror.

Estou confiante que na perseguição destes objetivos, temos a amizade duradoura dos Estados Unidos da América, a maior nação da terra. O povo americano tem sempre demonstrado a sua coragem, sua generosidade e decência. De um presidente para o seguinte, de um Congresso para o subsequente, o compromisso dos EUA com a segurança de Israel foi inabalável. No ano passado, o presidente Obama e o Congresso norte-americano deram significado a essa promessa, fornecendo assistência militar a Israel, permitindo exercícios militares conjuntos e trabalhando juntos na defesa antimísseis.

Assim também Israel tem sido um aliado leal e firme dos Estados Unidos. Como disse o vice-presidente Biden, a América não tem melhor amigo na comunidade das nações que Israel. Durante décadas, Israel serviu como um baluarte contra o expansionismo soviético. Hoje, está ajudando a América a conter a onda militante do islã. Israel compartilha com os Estados Unidos tudo o que sabe sobre como combater um novo tipo de inimigo. Trocamos informações de inteligência. Cooperamos em inúmeros outros campos dos quais eu não estou liberado a divulgar. Esta cooperação é importante para Israel e está ajudando a salvar vidas americanas.

Nossos soldados e seus soldados lutam contra inimigos fanáticos que detestam os nossos valores comuns. Aos olhos desses fanáticos, somos vocês e vocês estão conosco. Para eles, a única diferença é que vocês são grandes e nós somos pequenos. Vocês são o Grande Satã e nós somos o Pequeno Satã. Esse ódio fanático pela civilização ocidental antecede o estabelecimento de Israel por mais de mil anos.

Os militantes islâmicos não odeiam o Ocidente por causa de Israel. Eles odeiam Israel por causa do Ocidente — porque consideram Israel como um posto avançado da liberdade e da democracia, que os impede de ultrapassarem o Oriente Médio. É por isso que quando Israel está contra seus inimigos, está contra os inimigos da América.

O presidente Harry Truman, o primeiro líder a reconhecer Israel, disse: "Eu tenho fé em Israel e eu acredito que ele tenha um futuro glorioso — não apenas como uma outra nação soberana, mas como uma personificação dos grandes ideais da nossa civilização".

Meus Amigos,

Estamos reunidos aqui hoje porque acreditamos nos ideais comuns. E por causa desses ideais, estou certo de que Israel e os EUA estarão sempre juntos.

(Traduzido por Szyja Lorber- Paraná – BR)

domingo, 14 de março de 2010

Boom "high-tech" segura Israel na crise

Marcelo Ninio

País, que atravessou turbulência sem grandes arranhões, só perde para os EUA em número de novas empresas inovadoras.

Com apenas 7 milhões de habitantes, Israel tem 4.000 empresas de tecnologia e o maior índice per capita do mundo de engenheiros.

Sentado em seu escritório, situado num grande shopping center a poucos metros do mar Mediterrâneo, o israelense Tal Keinan abre um sorriso confiante ao ser indagado aonde pretende chegar com a empresa de tecnologia que fundou com um amigo em 2006, quando tinha apenas 27 anos.

"Quero ser Google", responde à Folha de São Paulo o jovem de cabelos longos e jeito de surfista, sonhando com o dia em que o programa de pesquisa on-line de sua empresa se torne tão difundido quanto o mecanismo de busca mais popular da rede.

A ambição de Keinan é um retrato do setor de tecnologia de Israel, destaque de uma economia que passou sem grandes arranhões pela crise global e foi uma das primeiras a sair dela. Segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), o país deve crescer 2,4% em 2010, uma das taxas mais altas entre países desenvolvidos.

Confinada a publicações especializadas ou ofuscada pelas notícias do conflito, é uma história de sucesso com alguns números que devem impressionar os empresários brasileiros que acompanharão o presidente Lula em sua visita a Israel, daqui a uma semana.

Israel tem o segundo maior número de "startups" (empresa iniciante que aposta em novas tecnologias) do mundo em termos absolutos, só atrás dos EUA. É de longe o país estrangeiro com mais empresas cotadas no Nasdaq (60), a Bolsa de Valores eletrônica dos EUA.

Sob condições históricas sempre adversas, em Israel o encontro da necessidade com planejamento e espírito empreendedor produziu um celeiro de inovação que atrai investimentos em maior escala do que em qualquer outro país.

Em 2008, as empresas de tecnologia israelenses receberam 2,5 vezes mais capital de risco (per capita) do que os EUA e 30 vezes mais que a Europa. Não falta financiamento para jovens empreendedores e com boas ideias, como Keinan.

E eles são muitos. Existem cerca de 4.000 empresas de tecnologia em Israel e mais de cem fundos de capital de risco. Inovações desenvolvidas no país incluem o pioneiro serviço de mensagem instantânea ICQ, vendido por US$ 407 milhões à AOL, o chip Pentium (Intel) e a pílula de vídeo que permite a visão dos intestinos sem necessidade de cirurgia.

Por trás dessa profusão de ideias está uma mistura de fatores históricos que produziram uma cultura atraída por tudo o que é novo e com baixíssima aversão ao risco. Um temperamento muitas vezes definido com a quase intraduzível palavra judaica "chutzpah", algo entre a audácia, o atrevimento e o despudor.

"Está no nosso DNA", explica Gil Hirsch, 37, um dos fundadores da empresa Face.com, que criou um programa destinado aos usuários da rede de relacionamento Facebook que querem localizar fotos suas postadas por terceiros na rede. "Chutzpah é não aceitar não como resposta."

O DNA ajuda, mas o empreendedorismo israelense também se beneficiou de um significativo empurrão estatal. Nos anos 90, o governo criou um programa que impulsionou o setor de capital de risco no país com uma proposta tentadora: o Estado entrava com 50% do capital, e o investidor, com 100% do lucro.

Na mesma década, uma onda de imigrantes da antiga União Soviética ampliou a oferta de mão de obra qualificada no país. Israel tem hoje o maior índice per capita de Ph.Ds e engenheiros do mundo.

Para muitos, entretanto, o principal catalisador do que já foi chamado de "milagre econômico israelense" é o Exército. Não são poucos os companheiros de quartel que se tornaram sócios em "startups" após largarem a farda.

Além de investir pesadamente em pesquisa tecnológica, o Exército dá a jovens soldados (a maioria serve pelo menos dois anos) a chance de receber formação técnica de ponta com atributos que toda empresa busca, como liderança e trabalho em equipe.

Para Keinan, que fez o serviço militar na principal unidade de computação do Exército, o que mais marcou foi o "choque de responsabilidade".

"Você se vê cercado de garotos, tendo que resolver problemas de gente grande", diz Keinan. "Isso cria uma capacidade de resolver problemas que nunca mais o abandona."

Fonte: Folha de São Paulo (8/3/2010)

sábado, 13 de março de 2010

Somos todos irmãos, camaradas

Sheila Sacs

Em sua recente visita a Israel, a jornalista catalã Pilar Rahola voltou a fustigar a esquerda mundial que nesta década tornou-se o bastiã das maledicências contra o Estado de Israel. Convidada para integrar o “3º Fórum Global para Combate ao Antissemitismo”, realizado em Jerusalém, a combativa defensora da causa judaica acusou a esquerda de destruir a civilização quando perdoa ou permanece calada diante das ideologias totalitárias das "ditaduras islâmicas".

Também culpou a esquerda de trair a modernidade ao se apaixonar por déspotas do porte do "islamofaciscta" Ahmadinejad e do "demagogo perigoso" Hugo Chávez, favorecendo ainda a cultura do ódio no momento em que "aplaude" os terroristas do Hamas.

A posição anti-Israel da esquerda ocidental é classificada por Rahola como uma imensa derrota moral de quem já foi paladino da liberdade e "das esperanças utópicas da sociedade". Lembrando que coube à esquerda, durante muito tempo, "monopolizar o conceito de solidariedade e progresso", ela estranha que não haja manifestações, em grandes cidades como Paris e Barcelona, "contra a escravidão de milhões de mulheres muçulmanas ou contra o uso de crianças-bomba nos conflitos onde o Islã está envolvido".

A essa derrota moral da esquerda, contaminada e encurralada pelos germes da intolerância, mentira e preconceito, somam-se outras derrotas importantes que desfavorecem o Estado Judeu e enfraquece as sociedades, segundo Rahola. Elas se localizam nas áreas da mídia (que informa mal), do pensamento crítico (banalização dos valores da civilização), da ONU (palco de ódio a Israel), da economia (dependência energética) e do próprio Islã, atacado internamente pelo fundamentalismo.

Em suma, uma derrota generalizada das forças sociais, políticas, econômicas e religiosas que regem as civilizações. Frente a esse cenário desolador de representações distorcidas produzidas ao longo dos primeiros dez anos do século XXI, Israel sobrevive como um "órfão" na visão da jornalista. "O pensamento intelectual e o jornalismo internacional renunciaram a Israel", lamenta Rahola. E põe o dedo na ferida - utilizando-se de uma lingüística crua, sem os disfarces habituais que a polidez social recomenda - ao evidenciar o Estado Judeu, nesse contexto de ruína moral, como a encarnação de "um pária de nação entre as nações, para um povo pária entre os povos".

O antigo ódio vestido de nova roupagem servindo-se do descaso e da falta de um efetivo comprometimento dos governos com os valores da liberdade e da cidadania.

Ainda que ao final da exposição a palestrante conclamasse as pessoas a não serem omissas e a jamais permanecerem sentadas vendo o mal triunfar, a frase impactante da forma como foi dita dificilmente seria repetida por israelenses ou pensadores de ascendência judaica de qualquer matiz ideológico para classificar a posição política de Israel e a situação dos judeus no mundo. Acredito que o pudor, o constrangimento e um mínimo de amor-próprio os impediriam desse autoflagelo público, quase um haraquiri psicológico.

Mas, despida de tais complexos de exceções que ainda fustigam as biografias dos judeus da diáspora e já batem à porta dos israelenses, a perspicaz jornalista em uma única sentença decretou a falência moral da humanidade. Afinal, que valores regulam uma civilização que por mais de dois milênios tem se mostrado, sistematicamente, impiedosa e implacável com um determinado grupo minoritário formado por seres humanos em tudo semelhantes aos demais do planeta? A fidelidade a uma religião ancestral e o respeito aos seus costumes e tradições fazem parte de um conjunto de princípios e padrões que tendem a moldar positivamente a identidade de cada um.

E quem faz a sociedade melhor são justamente os cidadãos de bem, quaisquer que sejam os seus credos. Portanto, de certo ponto de vista pode parecer um tremendo non sense que leis precisem ser instituídas para impor as populações um comportamento público de tolerância e compreensão em relação a determinadas minorias formadas por pessoas de bem. Essa lógica perversa e irracional que perdura e não parece dar sinais de arrefecer justifica o patético título da conferência de Rahola: “Judeus de seis braços” (em uma tradução bem cuidada de Irene Walda Heynemann).

Ou seja, nós judeus ainda somos percebidos pela humanidade como aberrações, tais quais as mulheres-macaco, os irmãos siameses e os homens-elefante que habitavam os picadeiros dos circos medievais. Uma pena. Afinal, com tantas mentes iluminadas em todos os campos do conhecimento ainda não fomos capazes de descobrir alguma fórmula para extirpar essa chaga medonha da face da humanidade. Mas, apesar disso, e talvez por isso mesmo, seremos mais irmãos e camaradas nos próximos 365 dias.

Com os olhos e ouvidos atentos, a mente lúcida, as mãos estendidas. Acreditando na amizade, no abraço, na solidariedade e na capacidade das pessoas se entenderem e se amarem sejam quais forem os seus destinos e as suas crenças.

quarta-feira, 3 de março de 2010

O conto de fadas do Fatah

Fahmi Shabaneh é um estranho candidato ao status de dissidente. Shabaneh é um Jerusalemita que se juntou ao Serviço Geral de Inteligência (SGI) da Autoridade Palestina em 1994. Trabalhando para o líder da AP Mahmoud Abbas e para o comandante da SGI Tawfik Tirawi, Shabaneh foi incumbido de investigar Árabes Jerusalemitas suspeitos de vender terras para Judeus.

Tais vendas são uma ofensa capital para a AP. Desde 1994 inúmeros Árabes tem sido vitimas de execuções extrajudiciais após serem apontados por gente como Shabaneh.

Poucos anos atrás, Abbas e Tirawi deram a Shabaneh uma nova tarefa. Eles o colocaram a cargo de uma unidade responsável por investigar atividades de corrupção de membros da AP. Eles provavelmente supunham que um membro da equipe como Shabaneh compreenderia o que tinha de fazer.

Como o predecessor de Abbas, Yasser Arafat, que sabidamente possuía dossiês completos de todos os seus subordinados e usava informações condenatórias para mantê-los fieis a ele, Abbas provavelmente acreditava que as informações de Shabaneh seriam suas para usá-las ou ignorá-las de acordo com a sua conveniência.

Por um tempo, Abbas parecia certo na sua crença. Shabaneh coletou uma enorme quantidade de informações sobre os membros mais antigos da AP detalhando suas atividades ilegais. Estas atividades incluíam o roubo de centenas de milhões de dólares da ajuda internacional; o confisco ilegal de terras e lares; e extorsões monetárias e sexuais de seus companheiros Palestinos.

Com o tempo, Shabaneh se desiludiu com o seu chefe. Abbas o nomeou para sua função no período em que havia sido eleito líder da AP em 2005. Abbas concorreu com uma plataforma anticorrupção. As informações de Shabaneh demonstravam que Abbas posava de governante presidindo um sindicato criminoso. E ao invés de prender seus corruptos camaradas criminosos, Abbas os promoveu.

Abbas continuou promovendo seus colegas corruptos mesmo depois da vitória eleitoral do Hamas em 2006. Aquela vitória se deveu em um grau significativo à revolta publica difundida contra a desmedida corrupção do Fatah.

Com Israel e Estados Unidos tomando partido e o apoiando depois da vitória do Hamas, Abbas continuou fazendo vista grossa aos seus colegas criminosos. Protegido pelo seu novo status de moderado insubstituível, ele permitiu que seus conselheiros e colegas continuassem enriquecendo com os fundos de doações internacionais que subiram como um foguete após a vitória do Hamas.

Desde 2006, apesar dos bilhões de dólares da ajuda internacional despejados no Fatah, o Hamas tem sempre batido o Fatah nas pesquisas de opinião. Ao invés de limpar a sua barra, Abbas e seus colegas do Fatah tem procurado a simpatia de seu público aumentando o incitamento contra Israel. E como que Abbas tem sido considerado insubstituível, o mesmo Ocidente que faz vista grossa à sua corrupção, se recusa a criticar o seu encorajamento ao terrorismo. E isto faz sentido. Como pode o Ocidente questionar a única coisa que se encontra no caminho do Hamas para tomar a Judéia e Samaria?

Recentemente, Shabaneh decidiu que já tinha tido o bastante. O tempo para expor o que sabia havia chegado.

Mas ele se deparou com uma dificuldade não prevista. Ninguém queria saber. Como ele mesmo colocou, os jornalistas árabes e ocidentais não tocariam em sua história por medo de serem “punidos” pela AP.

Em suas palavras, jornalistas ocidentais “não querem ouvir coisas negativas sobre o Fatah e Abbas”.

Na falta de opções, Shabaneh trouxe suas Informações para Khaled Abu Toameh do Jerusalem Post.

No dia 29 de Janeiro, o Post publicou a entrevista de Abu Toameh com Shabaneh na nossa primeira página. Entre outros furos jornalísticos impressionantes, Shabaneh relatou que os associados de Abbas roubaram 3.2 milhões de dólares em cash que os Estados Unidos deram antes das eleições de 2006. Ele contou para Abu Toameh como funcionários públicos da AP que não tinham um centavo em 1994 tinham agora dezenas ou até mesmo centenas de milhões de dólares em suas contas particulares. Ele relatou como viu com horror Abbas promover estes mesmos funcionários denunciados em seu relatório. E ele mostrou para Abu Toameh um vídeo do chefe de estado-maior de Abbas Rafik Husseini nu no quarto de uma mulher Cristã que procurava por emprego na AP.

Se as histórias de Shabaneh fossem sobre Israelis ou funcionários públicos ocidentais, sem dúvida elas receberiam atenção de todos os órgãos de noticias respeitados do mundo. Se ela estivesse falando sobre Israelis, funcionários de Washington a Bruxelas e ONU estariam clamando por investigações oficiais. Mas como ele estava falando sobre os Palestinos, ninguém se importou.

O Departamento de Estado não tinha nada a dizer. A União Européia não tinha nada a dizer. The New York Times agiu como se as revelações fossem sobre nada além de escândalos sexuais.

Quanto a Abbas e seus companheiros, eles foram rápidos em responsabilizar os Judeus. Eles acusaram Shabaneh - seu homem de confiança quando se tratava de vender terras para os judeus - de ser um agente israelense. E quando o Canal 10 anunciou que estava transmitindo a descomedida pilhagem de Husseini, Abbas exigiu que o Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu impedisse a transmissão, (aparentemente se esquecendo que, ao contrário do controle da mídia da AP, os órgãos de mídia de Israel são livres).

A ODISSEIA DE SHABANEH de leal à dissidente do regime da AP é um conto interessante. Mas o que é mais digno de nota do que a sua jornada Pessoal é a indiferença do mundo diante de suas revelações.

Assim como montanhas de evidências de que funcionários do Fatah – incluindo Tirawi, patrão de Shabaneh – tem se envolvido ativamente em ataques terroristas contra Israel tem sido sistematicamente ignoradas por sucessivas administrações dos Estados Unidos, governos Israelis e por chefes da política exterior da UE, também ninguém quer sequer pensar sobre o fato de que o Fatah é um sindicato criminoso, As implicações são por demais devastadoras.

Pelo menos desde 1994, sucessivas administrações dos Estados Unidos instigadas pela UE têm feito do apoio ao Fatah e a AP o ponto central de sua política para o Oriente Médio. Eles querem receber provas de que o Fatah é uma organização terrorista que opera como uma organização criminosa como eles querem – nas palavras imortais do ex- enviado da UE ao Oriente Médio, Christopher Patten - "um buraco na cabeça [deles].”

Quanto aos meios de Comunicação ocidentais, a sua falta de interesse nas revelações de Shabaneh serve como um lembrete do quão falsas são muitas das reportagens sobre a Palestina e Israel. Por 16 anos, a mídia Americana e Européia têm feito vista grossa à má conduta Palestina, enquanto expansivamente noticia qualquer algação contra Israel – não importando o quão inconsistente ou claramente falsas elas sejam.Quando a história da cobertura da mídia do Oriente Médio for escrita, ela se constituirá um dos capítulos mais sombrios da história da mídia Ocidental.

Mas enquanto a submissão de Americanos e Europeus à fábula de que o Fatah é a ancora para uma solução de dois estados reflete na indiferença de ambos sobre as revelações de Shabaneh, o que conta para o comportamento do governo de Netanyahu sobre essa matéria?

Pouco tempo depois de o Post publicar pela primeira vez a história de Shabaneh, a AP emitiu um mandato de prisão contra ele. Ele foi acusado, entre outras coisas, de “prejudicar os interesses nacionais” dos Palestinos.

Mas os homens de Abbas não puderam colocar as mãos nele. Israel já o havia prendido.

Shabaneh foi autuado entre outras coisas, por trabalhar ilegalmente para a AP. De fato é ilegal para residentes Israelis trabalhar para AP. Mas estranhamente, apesar das autoridades Israelis terem conhecimento para quem Shabaneh trabalhava desde 1994, até suas revelações se tornarem públicas, eles nunca viram nem uma necessidade premente de prendê-lo ou processá-lo.

As autoridades de Israel nada tinham a dizer sobre as informações de Shabaneh. Ao contrário, na época das revelações, todos, de Netanyahu ao Ministro de Defesa Ehud Barak continuaram a proclamar diariamente sua dedicação para alcançar um acordo de paz com Abbas. Esta postura foi mantida mesmo quando Abbas e seus companheiros acusaram Israel de usar o “traidor” Shabaneh para pressionar Abbas para negociar dom Israel.

Existem duas explicações para o comportamento de Israel. Primeiro, existe o fato de que a presença de Barak e de seu partido trabalhista no governo torna impossível para Netanyahu e seu partido Likud abandonar o enfraquecido paradigma de dois estados para lidar com a AP. Se Netanyahu e seus companheiros tivessem que apontar que a AP é uma cleptocracia e que suas autoridades mais antigas permitem o terror e a escalada do incitamento para desviar a atenção pública de sua criminalidade, (e também porque eles querem destruir Israel), os trabalhistas poderiam querer re-examinar com mais cuidado a coalizão.

Além disto, não há dúvidas que uma denuncia Israeli de Abbas e sua máfia enfureceria os EUA e a UE. Aparentemente, Netanyahu – que para agradar o Presidente Barack Obama aceitou o paradigma dos dois estados a despeito do fato dele se opor a isto, e suspendeu construções Judaicas na Judéia e Samaria apesar do fato dele saber estar agindo errado – soa detestável provocar apontando o fato obvio de que a AP é formada por um bando de ladrões opressivos e corruptos.

Shabaneh afirma que devido a corrupção da AP, o Hamas permanece sendo a alternativa preferida dos Palestinos na Judéia e Samaria. No seu ponto de vista, a única razão do Hamas não ter tomado ainda a Judéia e Samaria é a presença das Forças de Defesa de Israel nas áreas.

As implicações estratégicas de suas declarações são claras. Longe de ser um baluarte contra o Hamas, Abbas da poder as forças jihadistas financiadas pelo Irã. A única defesa contra o Hamas é Israel.

O QUE ISTO significa é que Israel precisa dar um ponto final ao seu apoio a Abbas. Cada dia que ele permanece no poder, Abbas perpetua o mito da moderação Palestina. Como um pretenso moderado, ele alega que Israel deveria cortar suas operações de contra-terror e deixar que as suas próprias forças “moderadas” assumam.

Para fortalecer Abbas, os EUA pressionam Israel para cortar suas operações de contra-terror na Judéia e Samaria. Para agradar aos Estados Unidos, Israel por sua vez resume suas operações.

Os homens de Abbas lutam contra o Hamas, mas eles também aterrorizam jornalistas, comerciantes e civis comuns que cruzam seus caminhos, fortalecendo assim, o Hamas. Para alavancar o apoio público para o Fatah, Abbas aumenta o incitamento da AP contra Israel. Isto então encoraja suas próprias forças para atacar Israelis – como aconteceu na semana passada quando um de seus oficiais de segurança assassinou o sargento da FDI Ihab Khatib. E por ai vai.

Está claro que Barak vai ameaçar sair da coalizão se Netanyahu decidir romper com Abbas. Mas se ele saísse, para onde iria? Barak não tem para onde ir. Ele não vai ser reeleito pra liderar seu partido. E se o Trabalhista sair da coalizão, Netanyahu ainda estaria bem longe de perder sua maioria no Knesset.

Quanto a enfurecer a Casa Branca, o ponto x da questão é que apontando Abbas como um líder não credível, Israel vai tornar mais difícil para Obama e seus e assessores forçá-lo a fazer mais concessões o que irá fortalecer ainda mais o Hamas.

Shabaneh disse ao Post que espera com certeza que a AP tente assassiná-lo. Mas de certa forma, a chateação como sua história foi recebida é a sua melhor apólice de seguro de vida. Enquanto o mundo não parar de acreditar que o Fatah é indispensável, ninguém irá escutar os Shabanehs da vida e assim a AP não terá razão para matá-lo.

Assim como o Post seria o único órgão de mídia que publicaria sua história, o governo de Israel é o único governo que pode forçar o resto do mundo a reconhecer que Abbas não é um aliado. Mas para fazer isto, o próprio governo precisa finalmente pôr fim ao conto de fadas da moderação do Fatah.

The Fatah fairy tale ( http://www.carolineglick.com/e/2010/02/the-fatah-fairy-tale.php ) - Originalmente publicado no The Jerusalem Post.

Tradução: Ivan Kelner